Pedaço de matzá e um copo com fruto da videira sobre mesa

Seudat Mashiach, uma mitsvá do Messias

29/08/2021
Por Rosh Gilberto Branco

Tempo de leitura: minutos



Seudat Mashiach (refeição do Messias) ou Zichron Mashiach (em memória do Messias) é uma mitsvá, um mandamento do Messias. Não é um ato opcional de piedade, mas uma expressão fundamental da aliança de Deus com Israel, renovada pela auto oferta de Yeshua.


O sentido da celebração já foi definido logo no início do ministério de Yeshua;

Yeshua lhes disse: "Eu lhes digo a verdade: Se vocês não comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos.

Todo o que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.

Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida.

Todo o que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.

Da mesma forma como o Pai que vive me enviou e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa. João 6:53-57

Certamente, nem os discípulos entenderam o significado da sua mensagem num primeiro momento, de tal forma que foi exatamente nesse ponto que muitos desistiram de seguir o Messias, confirmando o que Ele afirmou no evento;

E prosseguiu: "É por isso que eu lhes disse que ninguém pode vir a mim, a não ser que isto lhe seja dado pelo Pai". João 6:65

De fato, somente os escolhidos poderiam entender e viver a celebração que seria determinada.

Costumamos vincular a maturidade espiritual de um messiânico a quando ele finalmente está preparado para passar pelo tevilá (imersão), pois assim fica evidente que não desistiu de Yeshua ao declarar publicamente que o recebeu na sua vida, se arrependeu de seus pecados, tornou válido o sacrifício do Messias para limpar os seus pecados e se tornou uma nova criatura, quando então espera-se que essa pessoa participe regularmente, e com sinceridade, das celebrações do Seudat até o final da sua vida.


No final do ministério de Yeshua, já alertando os talmidim sobre os seus últimos dias, ao celebrar o seu último Pessach Ele estabelece a mitsvá de se fazer a celebração da sua morte definindo que se fizesse “em memória de mim”;

Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: "Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim".

Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês. Lucas 22:19,20

Lucas foi um escritor que procurava ser mais detalhista, pois apesar de não ter participado do evento e nem sequer acompanhou o Messias durante a sua vida, ele pesquisou entrevistando todos as testemunhas que pode para saber os principais pontos a serem registrados.

Juntando todos os textos sinóticos que descrevem o momento, podemos observar que Yeshua toma o pão, faz uma brachá, o parte, o associa ao seu corpo e estabelece um momento representativo a um korbã (oferta pelo pecado). A partir de então fica estabelecido que esta simples cerimônia seria feita em memória a Ele. Só tem sentido ser um memorial após a sua morte.

É curioso que apesar de Yeshua usar um tempo dentro da celebração do Pessach, esta cerimônia à parte não está vinculada diretamente ao significado do Pessach, tanto que não há uma ligação temporal associada à festa anual, mas foi apresentada de uma forma que o partir do pão por si próprio, junto com a brachá formam o memorial, independentemente de haver uma data específica, ou seja, faz-se sempre que se desejar lembrar da morte do Messias.

É interessante vermos também, que o memorial não se restringe ao partir do pão, tem como sequência o beber do cálice de vinho, pois não é apenas ferir o corpo, mas ferir e derramar o sangue, tal como as ofertas colocadas sobre o altar, elas eram feridas para sangrar e assim esvair a vida dos corpos para que o sacrifício tivesse valor e significado. Por isso o vinho agora representa o sangue de Yeshua que também deveria ser lembrado junto com o pão, não como a oferta mosaica, mas como uma nova aliança.


Embora Zichron Mashiach tenha sido instituído no contexto de Pessach, não há evidências de que sua prática tenha sido restrita àquela época.

Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Atos 2:42

Esta ênfase no partir do pão rotineiramente mostra claramente que a celebração memorial da morte de Yeshua não era como as outras festas memoriais anuais, mas era realizada com frequência, bastava que houvesse uma circunstância favorável e eles lembravam da morte de Yeshua.


Parece que os primeiros seguidores de Yeshua observavam a celebração com uma refeição pelo menos semanalmente no horário do Motsa'ei Shabat (a passagem do Sábado), quando se realiza o ritual do Havdalá ao final do Shabat quando se reuniam de forma mais formal, assim os messiânicos incluíram um novo elemento com o partir do pão como memorial.

No primeiro dia da semana reunimo-nos para partir o pão, e Shaul falou ao povo. Pretendendo partir no dia seguinte, continuou falando até à meia-noite. Atos 20:7

Não temos informações sobre até quando esse costume permaneceu ativo no meio messiânico, mas seguramente ele foi modificado com a gentilização da comunidade messiânica.

Ele foi incorporado à celebração da missa católica, mas perdeu muito do seu significado original.


 Nos dias atuais, por razões práticas, é difícil para a maioria das congregações messiânicas observar Zichron Mashiach com tanta frequência. No entanto, devemos ter como objetivo observá-lo pelo menos uma vez por mês.

Existem comunidades que decidiram celebrar o Seudat Mashiach apenas durante a celebração do Pessach, certamente há liberdade de decisão sobre isso, mas lembremos de que são celebrações distintas, ainda que o Seudat tenha sido estabelecido durante um Pessach.


A liturgia para a celebração da cerimônia não é um ponto rígido ou imutável, desde que se mantenham os seus símbolos principais conforme determinado por Yeshua, adaptações são permitidas.


Vejamos agora algumas sugestões para uma boa compreensão;


O Seudat Mashiach deverá incluir uma recitação da narrativa na qual Yeshua instituiu o rito, incluindo suas palavras de instituição. A narrativa da instituição será tirada de 1 Coríntios 11.24-26, Mateus 26.26-29 ou Lucas 22.19-20, ou consistirá de um composto desses textos para que todos entendam a razão desta celebração.


Tanto o pão sem fermento (matsá) quanto o fermentado podem ser usados ​​no rito, embora o pão sem fermento seja preferido por relembrar o contexto original de Pessach e como vinculação do rito a um tipo distinto de comida judaica, embora a Chalá (pão trançado de Shabat) também pudesse cumprir esse objetivo.


Tal como no Kidush em geral, tanto vinho quanto suco de uva podem ser empregados no rito, embora o vinho seja o preferido. Para expressar a santidade do evento, apenas vinho kosher ou suco de uva devem ser usados.


No cumprimento do papel de representar Yeshua, o pão e o fruto da videira empregados no ritual devem ser tratados com respeito especial. Assim como a tradição judaica ordena que os livros contendo o Nome divino sejam tratados com cuidado especial, e não sejam descartados de maneira profana, também esses elementos - que no contexto deste rito representam para nós o Nome divino encarnado - devem ser tratados com cuidado especial, e as porções restantes devem ser consumidas em vez de descartadas.


O Zichron Mashiach expressa, confirma e aprofunda a unidade do corpo duplo do Messias (judeus e gentios). Portanto, embora nossas próprias celebrações deste rito devam ser conduzidas de uma forma que expresse seu caráter inerentemente judaico, devemos procurar oportunidades de receber amigos cristãos para compartilhar a refeição conosco. E à medida que surjam as situações oportunas, devemos também responder favoravelmente aos convites para partilhar com os nossos amigos cristãos as próprias celebrações eclesiais deste rito.


Quando o Shaliach Shaul escreveu a sua carta à comunidade da cidade de Corinto, ele dedicou várias linhas da escrita para tratar sobre pontos relacionados à celebração do Seudat.

Devemos destacar alguns pontos;


Na carta de Shaul aos Coríntios no capítulo 11, ele relata que o cerimonial do Motsa'ei Shabat não estava atingindo o seu objetivo, pois não havia unidade de visão sobre a realização da cerimônia;

Quando vocês se reúnem, não é para comer a ceia do Senhor, porque cada um come sua própria ceia sem esperar pelos outros. Assim, enquanto um fica com fome, outro se embriaga.

Será que vocês não têm casa onde comer e beber? Ou desprezam a comunidade messiânica de Deus e humilham os que nada têm? Que lhes direi? Eu os elogiarei por isso? Certamente que não! 1 Coríntios 11:20-22

A celebração não era apenas para comerem os elementos e cumprirem uma tradição, mas era uma oportunidade para demonstrarem que eram um corpo e se importavam uns com os outros.


Ele faz uma recapitulação da instituição do Zichron Mashiach para que não houvesse dúvida a respeito.


Shaul enfatiza a importância e a solenidade da celebração,

Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha.

Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. 1 Coríntios 11:26,27

É tão solene a celebração, que quando é realizada, ela por si só já é uma mensagem importante de que se cumprirá a volta do Messias.

A responsabilidade sobre a sinceridade da participação de alguém é tão séria, que Shaul afirma que a não sinceridade é como uma afronta ao Eterno, e isso é até mesmo lógico. Falsidade é inaceitável diante do Senhor.


Examine-se o homem a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice. 1 Coríntios 11:28

Quando estiver no local da celebração comunitária, a autoavaliação é indispensável, ninguém pode fazer isso pelo outro, a sinceridade diante do Eterno é fundamental para que o cerimonial faça sentido para cada um.

Não compete a nenhuma outra pessoa avaliar a vida de alguém, por isso a sinceridade pessoal é muito importante para que haja uma qualidade espiritual durante a celebração.


Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe para sua própria condenação. 1 Coríntios 11:29

Pode ser que haja pessoas que levem a celebração sem nenhuma avaliação da sua importância, então se for assim, que se saiba que não será uma atitude sem consequência.

Por isso há entre vocês muitos fracos e doentes, e vários já dormiram. 1 Coríntios 11:30


E quanto a alguém não querer participar do Seudat?

Acredito que qualquer pessoa que tenha uma legítima experiência de conhecer a salvação por Yeshua, saberá reconhecer o valor e o significado desta celebração. Caso uma pessoa escolha não participar voluntariamente, salvo por motivos justificáveis, fica evidente que falta uma consciência adequada de quão importante isto é, ou, de fato, não houve uma verdadeira transformação de vida e, sendo assim, não tem motivo mesmo para celebrar.

Por esta razão também não é recomendado que aqueles que ainda não passaram pelo tevilá participem da cerimônia, pois falta ainda definir plenamente a sua fé.


Ao celebrarmos o Seudat Mashiach, devemos lembrar que o próprio Yeshua alertou que aquela seria a sua última participação até a vinda do Reino de Deus.

Em verdade vos digo que não beberei mais do fruto da vide, até àquele Dia em que o beber novo, no Reino de Deus. Marcos 14:25

Curiosamente, o vinho se tornou um item participante da celebração do Pessach apesar de não estar incluso nos elementos originais da celebração, que eram o cordeiro, a matsá e as ervas amargas, conforme foi ensinado por Moshé, mas para o Seudat é muito significativo e ele aponta para a segunda vinda do Messias.

Por enquanto, nós celebramos desta forma importante, contudo simples, mas podemos tentar imaginar como será naquele dia, quando todos os salvos reunidos diante do Messias celebrarmos pela última vez não apenas a morte, mas a grande vitória do Cordeiro de Deus, vivenciando um ambiente nunca antes experimentado por nenhum mortal, e podendo sentir plenamente o valor e o sentido do rito tantas vezes feito aqui na terra mas sem podermos alcançar a plenitude da glória de estarmos diante daquele que é o princípio e o fim.


Sendo assim, todos os filhos de Deus tem a oportunidade e o privilégio de “anunciar a morte do Senhor até que Ele venha”.



Rosh Gilberto Branco

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