Silhueta de dois camelos com duas pessoas em cima de cada camelo e uma pessoa a frente puxando o primeiro camelo

Os Patriarcas: Jacó - Parte 2

19/11/2022
Por Rosh Gilberto Branco

Tempo de leitura: minutos


Dando sequência sobre vida de Jacó, agora o acompanharemos em sua vida solo, com suas esposas e filhos.

Jacó se estabelece em um território próximo da cidade de Siquém, sendo que ele comprou o terreno que estava ocupando e deu o nome de Sukot.
Siquém era governada por Hamor e seus filhos.

Jacó ficou próximo da cidade administrada por Siquém, um dos filhos de Hamor. Nessa época a maioria das cidades tinha uma população relativamente pequena, somente as maiores eram muradas para sua defesa.

Diná, era a filha mais nova de Lia e ela nasceu em Padã Harã e era bastante nova quando eles se mudaram para Canaã.

Ela era a única jovem moça no acampamento de Israel, que era formado predominantemente de homens e ingenuamente quis conhecer as jovens da cidade.

Tudo indica que ela saiu imprudentemente sem a proteção dos seus irmãos ou servos do seu pai, o que a deixou vulnerável;

Certa vez, Diná, a filha que Lia dera a Jacó, saiu para conhecer as mulheres daquela terra.

Siquém, filho de Hamor, o heveu, governador daquela região, viu-a, agarrou-a e violentou-a.

Mas o seu coração foi atraído por Diná, filha de Jacó, e ele amou a moça e falou-lhe com ternura. Gênesis 34:1-3

É certo que Diná agiu com imprudência, mas o filho do governante a viu e agiu sem a menor ética sem saber quem ela era. O fato de ele ter sentido atração por ela não justifica a sua ação extremamente violenta.


Se ele não tivesse sentido nada por ela, provavelmente ficaria por isso mesmo na mente dele, mas por gostar dela pediu para o seu pai intermediar uma aquisição para casar-se;

Por isso Siquém foi dizer a seu pai Hamor: "Consiga-me aquela moça para que seja minha mulher". Gênesis 34:4

E assim foi Hamor falar com Jacó para solicitar o casamento.

Em princípio, o casamento anularia a desonra que Diná passou, mas a seguir veremos que a diferença de pensamento entre o povo de Israel e o povo de Siquém seria um impedimento para a união dos povos, e até um perigo para eles.


Para os heveus, as alianças de famílias eram bons negócios, pois aumentavam a população, as riquezas e o poder, mas eles não tinham nenhum compromisso com o Eterno Deus de Israel e a aparente vantagem estratégica de unir os povos faria a descendência de Israel ser assimilada e perderia totalmente a identidade de filhos de Abraão.


O que se seguiu foi a indignação dos filhos de Jacó, mas em especial Simeão e Levi que eram irmãos de Diná e filhos de Lia também.

O engano ainda não desaparecera da vida de Jacó, pois quando da reunião de Hamor, Siquém e Jacó com os seus filhos, foi feita uma proposta humanamente interessante, pois Jacó tinha bens, mas não tinha terras para dizer que era uma cidade com uma grande população, já Hamor tinha bastante terras, mas não tinha riquezas e muito gado. Assim, uma aliança de família seria proveitosa para todos, pelo menos é o que foi dado a parecer pelos dois lados.

Contudo, uma condição foi proposta pelos filhos de Jacó, eles sabiam da aliança entre o Eterno e Abraão quanto à identificação do povo através da circuncisão (brit milá) e exigiram isso para que o povo de Siquém pudesse se aparentar com eles, o que foi prontamente aceito por Hamor, Siquém e o seu povo, contudo, um plano nefasto estava na cabeça dos irmãos de Diná que não estavam de fato interessados nessa união;

Mas eles só consentirão em viver conosco como um só povo sob a condição de que todos os nossos homens sejam circuncidados, como eles.

Lembrem-se de que os seus rebanhos, os seus bens e todos os seus outros animais passarão a ser nossos. Aceitemos então a condição para que se estabeleçam em nosso meio".

Todos os que saíram para reunir-se à porta da cidade concordaram com Hamor e com seu filho Siquém, e todos os homens e meninos da cidade foram circuncidados. Gênesis 34:22-24

Então, do lado de Siquém todos cumpriram o que foi combinado.


Mas do lado de Jacó as coisas não foram conforme o acertado;

Três dias depois, quando ainda sofriam dores, dois filhos de Jacó, Simeão e Levi, irmãos de Diná, pegaram suas espadas e atacaram a cidade desprevenida, matando todos os homens.

Mataram ao fio da espada Hamor e seu filho Siquém, tiraram Diná da casa de Siquém e partiram. Gênesis 34:25,26

Não sabemos exatamente o tamanho da cidade de Siquém e nem qual era a sua população, mas era pequena o suficiente para que os dois irmãos dessem conta de matar todos os homens que estavam convalescendo da pequena cirurgia, lembrando que naquele tempo não existiam analgésicos, anti-inflamatórios ou antissépticos como temos hoje, então ficaram vulneráveis ao ataque violento que foi perpetrado, morrendo desde o governador até o mais simples trabalhador.


Não bastasse a ação dos dois irmãos, os demais ainda foram saquear toda a cidade;

Vieram então os outros filhos de Jacó e, passando pelos corpos, saquearam a cidade onde sua irmã tinha sido desonrada.

Apoderaram-se das ovelhas, dos bois e dos jumentos, e de tudo o que havia na cidade e no campo.

Levaram as mulheres e as crianças, e saquearam todos os bens e tudo o que havia nas casas. Gênesis 34:27-29

Só o pai estava fora do saque e talvez José por ser pequeno ainda.



Jacó ficou temeroso que os povos ao seu redor quisessem vingar a cidade de Siquém, por isso resolveu sair dali e se mudar para Betel;

Quando eles partiram, o terror de Deus caiu de tal maneira sobre as cidades ao redor que ninguém ousou perseguir os filhos de Jacó. Gênesis 35:5

Só um livramento do Eterno para poupá-los, mas sem dúvida a fama de Jacó correu entre as cidades e eles ficaram isolados, como deveria ser.


O Eterno reiterou tudo o que havia dito antes, e também o seu novo nome;

Depois que Jacó retornou de Padã-Arã, Deus lhe apareceu de novo e o abençoou, dizendo: "Seu nome é Jacó, mas você não será mais chamado Jacó; seu nome será Israel". Assim lhe deu o nome de Israel. Gênesis 35:9,10


A sua vida não ficou tranquila, Raquel deu-lhe o seu último filho, Benjamim, mas morreu no parto. E seus filhos não eram exatamente “comportados”, sempre havia um lhe dando preocupações.

Nessa época também morreu Isaque seu pai com cento e oitenta anos.

Isaque viveu cento e oitenta anos.

Morreu em idade bem avançada e foi reunido aos seus antepassados. E seus filhos Esaú e Jacó o sepultaram. Gênesis 35:28,29


Com toda a sua experiência de vida, Israel acabou cometendo alguns dos mesmos erros que o seu pai, como ter preferência por filhos e demonstrar isso, talvez até inconscientemente, e por isso também vivenciou muitos problemas. Isso mostra apenas que ele era um ser humano, portanto longe da perfeição.


Finalmente Jacó se estabelece na mesma região em que o seu pai ficou por muitos anos;

Jacó habitou na terra de Canaã, onde seu pai tinha vivido como estrangeiro. Gênesis 37:1

Assim os seus filhos foram crescendo e assumindo os trabalhos de cuidar dos bens da família;

Esta é a história da família de Jacó: Quando José tinha dezessete anos, pastoreava os rebanhos com os seus irmãos. Ajudava os filhos de Bila e os filhos de Zilpa, mulheres de seu pai; e contava ao pai a má fama deles. Gênesis 37:2


O relacionamento de Israel com os filhos começou a definhar;

Ora, Israel gostava mais de José do que de qualquer outro filho, porque lhe havia nascido em sua velhice; por isso mandou fazer para ele uma túnica longa.

Quando os seus irmãos viram que o pai gostava mais dele do que de qualquer outro filho, odiaram-no e não conseguiam falar com ele amigavelmente. Gênesis 37:3,4

O sentimentalismo de Israel abriu oportunidade para o adversário semear contenda e ódio na família, ele valorizou demais os próprios traumas e esqueceu que cada um de seus filhos eram pessoas com as quais ele tinha a responsabilidade de amar e valorizar.


A despeito dos problemas emocionais da família, o Eterno tinha os seus próprios planos;

Certa vez, José teve um sonho e, quando o contou a seus irmãos, eles passaram a odiá-lo ainda mais. Gênesis 37:5

Uma coisa fica bem clara na Torá, os nossos traumas, decepções, frustrações, injustiças e perdas com que alguém possa querer explicar suas ações, nunca irão justificar os nossos atos diante do Eterno.

Quando o Criador decidiu o que ia fazer na vida de José, Ele não consultou nem Israel, nem as suas esposas e nem os seus irmãos, Ele simplesmente fez.


O ambiente doméstico na casa de Israel não era de paz, era tenso e o patriarca não se esforçava para resolver, talvez por nem saber como, mas a situação caminhava para acontecimentos ainda mais traumáticos e doloridos para ele.


Os sonhos que o Eterno dera a José irritaram os seus irmãos, mas Israel começou a meditar sobre eles;

Assim seus irmãos tiveram ciúmes dele; o pai, no entanto, refletia naquilo. Gênesis 37:11

A bagagem de experiências com o Eterno que Israel tinha o levaram a não desconsiderar cada palavra que o seu filho dizia.


Os irmãos de José criaram uma situação terrível que por pouco não o levou à morte, e quando o simulacro de um ataque de fera foi apresentado ao seu pai, o seu sentimento o fez desabar;

Então Jacó rasgou suas vestes, vestiu-se de pano de saco e chorou muitos dias por seu filho. Gênesis 37:34

A dor e o lamento do seu pai deve ter feito mal para os irmãos de José, mas eles não tinham mais como reverter o seu ato criminoso e deixaram por isso mesmo.


Muitos anos se passaram e de tantas coisas que aconteceram no Egito com o filho de Jacó, ele nada sabia, mas tudo estava ocorrendo conforme o projeto do Eterno, tendo início uma grande seca que duraria sete anos, toda a região de Canaã foi afetada;

Quando Jacó soube que no Egito havia trigo, disse a seus filhos: "Por que estão aí olhando uns para os outros? "

Disse ainda: "Ouvi dizer que há trigo no Egito. Desçam até lá e comprem trigo para nós, para que possamos continuar vivos e não morramos de fome". Gênesis 42:1,2

O luto por José já tinha passado, a vida seguia normal e pouca coisa mudou, Jacó transferiu a preferência para o seu filho mais novo por ele ser o irmão caçula de José por parte da sua mãe Raquel, mas parece que todos os outros irmãos ficaram afetados pelo que fizeram com José e não agiram a mesma forma com Benjamim e depois da dor que viram o seu pai passar não quiseram repetir o crime.


Quando os filhos de Israel voltaram do Egito e ele soube que o governador retivera Simeão e exigira ver Benjamim, o velho patriarca se vitimizou e esqueceu que deveria ser mais confiante no Eterno;

E disse-lhes seu pai Jacó: "Vocês estão tirando meus filhos de mim! Já fiquei sem José, agora sem Simeão e ainda querem levar Benjamim. Tudo está contra mim! " Gênesis 42:36

O próprio José deu melhor testemunho de confiança no Eterno do que o seu pai. Jacó estava pessimista da sua vida vendo um futuro nublado.


Após relutar em liberar seu filho Benjamim, o trigo acabou e não havia mais opção, ou ele liberaria ou morreriam todos de fome;

Que o Deus Todo-poderoso lhes conceda misericórdia diante daquele homem, para que ele permita que o seu outro irmão e Benjamim voltem com vocês. Quanto a mim, se ficar sem filhos, sem filhos ficarei". Gênesis 43:14

Israel era o patriarca e responsável por um grande grupo de pessoas, na sua autopiedade ele estava colocando todos em perigo.

Podemos ver que até mesmo um homem com mais de cem anos tem muito a aprender, e Jacó precisava entender que confiar no Eterno é mais do que admitir que Ele cumpriria promessas antigas, ele precisaria confiar na sua provisão no dia a dia.


Depois que José finalmente se revelou aos irmãos eles voltaram para Israel seu pai e lhe contaram;

e lhe deram a notícia: "José ainda está vivo! Na verdade, ele é o governador de todo o Egito". O coração de Jacó quase parou! Não podia acreditar neles. Gênesis 45:26

Agora Jacó aprendeu mais uma coisa a respeito do Eterno, Ele pode fazer o impossível acontecer. E nós também devemos aprender isso.


Agora parece que Israel finalmente entendeu o quanto se pode confiar no Deus que havia falado com ele anteriormente e o adorou;

Israel partiu com tudo o que lhe pertencia. Ao chegar a Berseba, ofereceu sacrifícios ao Deus de Isaque, seu pai.

E Deus falou a Israel por meio de uma visão noturna: "Jacó! Jacó! " "Eis-me aqui", respondeu ele.

"Eu sou Deus, o Deus de seu pai", disse ele. "Não tenha medo de descer ao Egito, porque lá farei de você uma grande nação.

Eu mesmo descerei ao Egito com você e certamente o trarei de volta. E a mão de José fechará os seus olhos." Gênesis 46:1-4

Depois de oferecer sacrifício de adoração o Eterno falou com ele novamente através de sonho, e ele não tinha motivo nenhum para duvidar e também tinha algo importante para comunicar a todos os seus filhos, todos devem saber, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó é verdadeiro e cumpre o que promete, confiem nele.


Provavelmente Israel nunca imaginou que teria uma conversa informal com o rei mais poderoso da Terra no seu tempo;

Então José levou seu pai Jacó ao faraó e o apresentou a ele. Depois Jacó abençoou o faraó, e este lhe perguntou: "Quantos anos o senhor tem? "

Jacó respondeu ao faraó: "São cento e trinta os anos da minha peregrinação. Foram poucos e difíceis e não chegam aos anos da peregrinação dos meus antepassados".

Então, Jacó abençoou o faraó e retirou-se. Gênesis 47:7-10

Pouco sabemos sobre o faraó envolvido nesta história, mas até essa época é pouco provável que qualquer outro soberano egípcio tenha ouvido falar do Deus Criador que poderia abençoá-lo quanto Israel o abençoou.


Finalmente Israel pôde viver em paz e segurança, tendo recebido um tratamento tão diferenciado como nunca pudera imaginar;

Os israelitas se estabeleceram no Egito, na região de Gósen. Lá adquiriram propriedades, foram prolíferos e multiplicaram-se muito.

Jacó viveu dezessete anos no Egito, e os anos da sua vida chegaram a cento e quarenta e sete. Gênesis 47:27,28

Dezessete anos de prosperidade na vida de todos os seus descendentes foi o que o patriarca pôde observar, mas isso não duraria para sempre.


Chegou a hora da partida de Israel;

A seguir, Israel disse a José: "Estou para morrer, mas Deus estará com vocês e os levará de volta à terra de seus antepassados. Gênesis 48:21

Em sua despedida Israel relembrou a promessa do Eterno feita tanto a Abraão, quanto a Isaque e a ele mesmo, de que eles seriam uma nação, então fica claro que não era para se estabelecerem de forma definitiva no Egito, se eles não saíssem de lá seriam totalmente assimilados e a promessa divina não se cumpriria. Ele lembrou que a terra dos seus antepassados seria a terra deles, ou seja, seriam possuidores de uma terra própria e seriam uma nação independente.


O relacionamento de Jacó com o seu Deus amadureceu grandemente;

Então Jacó chamou seus filhos e disse: "Ajuntem-se a meu lado para que eu lhes diga o que lhes acontecerá nos dias que virão. Gênesis 49:1

Nos últimos momentos da sua vida ele apresentou algo para os seus filhos que não poderia ser dito simplesmente pela sua vontade, mas o Eterno o inspirou a ponto de poder dizer de forma profética a cada um as características dos povos que descenderiam deles.


Esses foram os últimos instantes antes da sua partida;

Ao acabar de dar essas instruções a seus filhos, Jacó deitou-se, expirou e foi reunido aos seus antepassados. Gênesis 49:33

Esse foi um momento marcante na vida dos filhos, mas só podemos imaginar que cada um registrou essas palavras para a sua vida e a sua descendência.


Nenhum dos patriarcas teve um reconhecimento como teve Israel;

Então José partiu para sepultar seu pai. Com ele foram todos os conselheiros do faraó, as autoridades da sua corte e todas as autoridades do Egito, e, além deles, todos os da família de José, os seus irmãos e todos os da casa de seu pai. Somente as crianças, as ovelhas e os bois foram deixados em Gósen. Gênesis 50:7,8

Essa distinção foi dada pelo Eterno para que todos saibam que Israel é o nome do patriarca pelo qual os seus descendentes seriam chamados, ele deu a semente das doze tribos que formariam a nação mais importante de toda a terra.


Esta é a segunda e última parte da vida de Jacó, um homem comum, mas quando o Eterno quer fazer algo com alguém só Ele mesmo pode exaltar a quem Ele quer.

Fiquemos sempre na vontade do Criador.

Escrito por

Rosh Gilberto Branco

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