Cor vermelha

O preço do sangue

25/04/2022
Por Rosh Gilberto Branco

Tempo de leitura: minutos


Quando se fala que o preço do perdão dos pecados é o derramamento de sangue, isso soa de forma estranha aos ouvidos de muitas pessoas.

Até mesmo entre alguns estudiosos da Torá encontramos inúmeras interpretações que diminuem a importância dos sacrifícios de sangue, tentam justificar a impossibilidade da realização desses rituais (porque o templo de Jerusalém já não existe mais) com ações substitutas.

O que hoje vemos começou por volta do ano 90EC com as decisões do rabino Yochanan Ben Zakai.

Ben Zakai foi discípulo do rabino Hilel, e durante o cerco do general Vespasiano a Jerusalém em 68EC, ele fugiu forjando a sua morte tendo o seu caixão levado por seus discípulos para fora da cidade antes da destruição pelo general Tito no ano de 70EC.

Ele fundou uma escola de estudos da Torá e depois da destruição do templo começou a estabelecer princípios que vieram a compor a Mishná, para dar continuidade da cultura judaica, formando o que conhecemos como o judaísmo rabínico, que foram adaptações do entendimento da Torá para a nova condição vivida por todos os judeus que não reconheceram Yeshua como Messias e Korban. O que ele começou continua até os dias de hoje.


Assim estabeleceu o Eterno;

Nada acrescentem às palavras que eu lhes ordeno e delas nada retirem, mas obedeçam aos mandamentos do Eterno, o Deus de vocês, que eu lhes ordeno. Deuteronômio 4:2

Quando alguém diz “- A Torá diz isto, mas não é mais assim, agora é desse jeito.” devemos ficar em alerta, provavelmente está surgindo uma heresia.


Lamentavelmente a maioria das pessoas tem pouco interesse em estudar e pesquisar as Escrituras, não gostam muito de se esforçar para entender corretamente o texto bíblico, é mais fácil dar atenção ao que os outros ensinam.

Aqueles que guiam este povo o desorientam, e aqueles que são guiados deixam-se induzir ao erro. Isaías 9:16

Deixar-se induzir ao erro não retira da pessoa a responsabilidade pelo erro, cada um é responsável diante do Eterno pelo que crê e responderá por isso.


O grande problema de muitos que negam o valor do sangue na redenção, é que não entendem que o pecado é algo que não se apaga com o nosso esforço.

Alguns ensinam que basta ter uma vida de obediência às instruções da Torá, orar, cumprir tsedaká (boas obras) e ter uma vida reta que está tudo resolvido, os pecados passados são esquecidos e nunca pecará de novo, mas não é isso que a Torá ensina.


Sabemos que o pecado começou com o primeiro casal no Jardim do Éden, mas não há registro de como foi que eles puderam ser redimidos disso, porém, podemos observar que os seus filhos foram instruídos a sacrificar animais ao Eterno. Quem os instruiu que o sangue vertido em um sacrifício tem valor diante do Criador? Certamente foi o próprio Deus e eles tiveram a oportunidade de se consertarem diante do seu Criador.


Observemos que o sacrifício de Caim não foi aceito, pois nunca houve instrução para se ofertar com os frutos da terra, Caim errou e não se arrependeu, mas ficou com severo ressentimento do seu irmão que fez certo e foi aceito.

O Eterno o alertou sobre o pecado;

O Senhor disse a Caim: "Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto?

Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo". Gênesis 4:6,7

Caim cometeu o primeiro homicídio, tinha tudo para poder se redimir, mas preferiu fugir a se arrepender.

Disse o Senhor: "O que foi que você fez? Escute! Da terra o sangue do seu irmão está clamando.

Agora amaldiçoado é você pela terra, que abriu a boca para receber da sua mão o sangue do seu irmão. Gênesis 4:10,11

Nada passa despercebido pelo Criador, o pecador fica envergonhado diante do Eterno, as consequências acompanham por toda a vida.

Então Caim afastou-se da presença do Eterno e foi viver na terra de Node, a leste do Éden. Gênesis 4:16

Como Caim muitos carregam o seu pecado e se afastam do Eterno, mas mesmo que haja uma mudança de vida o pecado permanece como uma marca na alma da pessoa.


Prevaleceu o afastamento da presença de Deus pela grande maioria da humanidade, uns poucos levaram à frente o recado divino sobre a necessidade de expiação do pecado, mas geração após geração somente uns poucos foram fiéis para oferecerem ao Eterno os sacrifícios necessários para se redimirem dos seus pecados, outros preferiram caminhos alternativos para buscarem a paz para a sua consciência, inventaram outros deuses que não exigem arrependimento ou mecanismos inventados para que as pessoas aplaquem o incômodo da consciência.

No final das contas, a humanidade continuou com a dívida dos crimes cometidos contra o nosso Deus e nada do que inventaram resolveu o problema.

A única coisa que ainda resolvia era sacrificar um animal como preço da transgressão como ensinado no Éden. É certo que o adversário procurou deturpar a doutrina, inventando caminhos alternativos como sacrifícios a outros deuses, penitências auto infligidas, e uma total ignorância sobre o real destino dos pecadores que complicaram ainda mais a condição de perdidos para a humanidade.


O conhecimento sobre sacrifícios de animais permaneceu no conhecimento humano por séculos, mesmo tendo sido corrompido por satan.

Abraão aprendeu melhor sobre isso depois que o Eterno começou a falar com ele, a ponto de ser enviado para oferecer um holocausto com o seu próprio filho na terra de Moriá. Chegando lá, até mesmo Isaque sabia que estava faltando o cordeiro, mas o seu pai havia recebido instruções bem específicas sobre como proceder, então foi em frente, mas no final tudo correu como deveria acontecer, um carneiro foi sacrificado no lugar de Isaque.

Aqui já podemos perceber que a intenção vale mais do que a ação, Isaque não foi morto, mas no coração do pai ele já estava sacrificado quando começou a mover o cutelo em direção ao corpo do seu filho, somente uma intervenção divina pôde mudar o desfecho do sacrifício de Abraão.


Tudo isso parece estranho para nós hoje em dia, mas a cerca de 3.500 anos atrás era mais comum, inclusive com o sacrifício de seres humanos por parte dos pagãos.


Mas devemos ver com clareza, o sangue de animais não é o que agrada o Eterno, mas o desejo do homem de se consertar com Ele o alegra.


É pretensão do homem querer entender as razões do Criador, mas a grande importância do sangue para a nossa vida é que o fez exigir esse pagamento pelas nossas transgressões.


Chegando ao tempo de Moisés, o sangue passa a ter ainda mais importância e começa a ter uma nova regulamentação.

O primeiro uso nessa nova era, foi usar um hissopo para passar o sangue do cordeiro sacrificado para o Pessach nos umbrais das portas das casas dos hebreus para livrar os primogênitos da morte. Esse sinal foi para o Eterno passar por cima das casas onde houvesse o sangue, assim não houve morte entre os hebreus naquela noite.

Então, à meia-noite, o Senhor matou todos os primogênitos do Egito, desde o filho mais velho do faraó, herdeiro do trono, até o filho mais velho do prisioneiro que estava no calabouço, e também todas as primeiras crias do gado. Êxodo 12:29

O Eterno é o dono da vida e tem domínio sobre a morte, quem poderá desafiá-lo?


No decorrer dos dias após o povo hebreu passar o mar com os pés enxutos, o Eterno começou a estabelecer as regras para a santificação do povo, e com frequência o sangue era requerido nas celebrações e ofertas pessoais.

A primeira ordenança foi;

"Façam-me um altar de terra e nele sacrifiquem-me os seus holocaustos e as suas ofertas de comunhão, as suas ovelhas e os seus bois. Onde quer que eu faça celebrar o meu nome, virei a vocês e os abençoarei. Êxodo 20:24


Na prática o primeiro serviço de sacrifício é citado aqui;

Moisés, então, escreveu tudo o que o Senhor dissera. Na manhã seguinte Moisés levantou-se, construiu um altar ao pé do monte e ergueu doze colunas de pedra, representando as doze tribos de Israel.

Em seguida enviou jovens israelitas, que ofereceram holocaustos e novilhos como sacrifícios de comunhão ao Senhor. Êxodo 24:4,5

Ainda não estavam organizados os serviços religiosos de Israel, os levitas ainda não tinham sido separados.


Este sacrifício foi importante porque selou a primeira aliança;

Depois Moisés aspergiu o sangue sobre o povo, dizendo: "Este é o sangue da aliança que o Senhor fez com vocês de acordo com todas essas palavras". Êxodo 24:8

Observemos que essa aliança foi firmada com sangue.


Depois que Moisés subiu no monte as instruções começaram a chegar;

"Faça um altar de madeira de acácia. Será quadrado, com dois metros e vinte e cinco centímetros de largura e um metro e trinta e cinco centímetros de altura.

Faça uma ponta em forma de chifre em cada um dos quatro cantos, formando uma só peça com o altar, que será revestido de bronze. Êxodo 27:1,2



Esse altar passou a ter muita importância para os hebreus durante mais de 1.300 anos, pois todos os sacrifícios ficaram centralizados nele.

"Eis o que você terá que sacrificar regularmente sobre o altar: a cada dia dois cordeiros de um ano.

Ofereça um de manhã e o outro ao entardecer. Êxodo 29:38,39

Em condições normais o altar era usado muitas vezes durante todos os dias, pois além das ofertas diárias ainda existiam os holocaustos eventuais e as ofertas pelo pecado trazidas pelas pessoas, havia muito sangue derramado.


Existiam vários sacrifícios envolvendo o sacerdote, líderes do povo ou pessoas especiais, mas as pessoas comuns tinham uma ótima oportunidade;

"Se trouxer uma ovelha como oferta pelo pecado, terá que ser sem defeito.

Porá a mão sobre a cabeça do animal, que será morto como oferta pelo pecado no lugar onde é sacrificado o holocausto.

Então o sacerdote pegará com o dedo um pouco do sangue da oferta pelo pecado e o porá nas pontas do altar dos holocaustos, e derramará o restante do sangue na base do altar.

Retirará toda a gordura, como se retira a gordura do cordeiro do sacrifício de comunhão; o sacerdote a queimará no altar, em cima das ofertas dedicadas ao Senhor, preparadas no fogo. Assim o sacerdote fará em favor dele propiciação pelo pecado que cometeu, e ele será perdoado". Levítico 4:32-35

Neste caso é uma propiciação pelo pecado, distinguindo de outros tipos de propiciação, sendo que nenhum outro tipo de ritual era indicado para o perdão de pecados, contudo, principalmente pelo texto de Isaías, fica evidente que não era somente o sacrifício onde um animal seria morto, mas era ainda mais importante que houvesse arrependimento do pecado.

Vejamos o que aconteceu em um momento em que Israel estava afastada da comunhão com o eterno;

Ouçam, ó céus! Escute, ó terra! Pois o Senhor falou: "Criei filhos e os fiz crescer, mas eles se revoltaram contra mim.

O boi reconhece o seu dono, e o jumento conhece a manjedoura do seu proprietário, mas Israel nada sabe, o meu povo nada compreende".

Ah, nação pecadora, povo carregado de iniquidade! Raça de malfeitores, filhos dados à corrupção! Abandonaram o Senhor; desprezaram o Santo de Israel e o rejeitaram. Isaías 1:2-4

Isso não ficou sem atenção do Eterno;

"Para que me oferecem tantos sacrifícios? ", pergunta o Senhor. Para mim, chega de holocaustos de carneiros e da gordura de novilhos gordos; não tenho nenhum prazer no sangue de novilhos, de cordeiros e de bodes! Isaías 1:11

Mas através do mesmo profeta o Eterno diz o que o agrada;

Não foram as minhas mãos que fizeram todas essas coisas, e por isso vieram a existir?”, pergunta o Senhor. "A este eu estimo: ao humilde e contrito de espírito, que treme diante da minha palavra”. Isaías 66:2

Então entendemos, o sangue derramado só tem valor se o ofertante o fizer com sinceridade no coração, não por mero ritualismo.


Então vemos que isso funcionou até a vinda do Messias, pois o sacrifício estava diretamente vinculado ao serviço no templo onde ficava o altar, pois sem o altar não poderiam ser feitas as ofertas pelo pecado.

Mas, o templo foi destruído a quase dois mil anos, como fica isso então? Algo foi mudado na Torá para haver um serviço substituto?

Certamente não. A Torá é permanente e imutável, e ainda temos que considerar que o Eterno também é imutável e faz planos perfeitos.

Pois vocês foram regenerados, não de uma semente perecível, mas imperecível, por meio da palavra de Deus, viva e permanente. 1 Pedro 1:23


A única coisa que mudou foi o uso de animais, pois a necessidade de sangue permanece. O sangue continua sendo o símbolo da vida e continua sendo o preço pelo pecado.

De fato, segundo a Torá, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não há perdão. Hebreus 9:22

Entretanto, quanto aos animais;

Contudo, esses sacrifícios são uma recordação anual dos pecados, pois é impossível que o sangue de touros e bodes tire pecados. Hebreus 10:3,4

Então o valor do derramamento de sangue pelos pecados permanece, e é agora validado pela morte de Yeshua;

Pois o Messias não entrou em santuário feito por homens, uma simples representação do verdadeiro; ele entrou no próprio céu, para agora se apresentar diante de Deus em nosso favor; não, porém, para se oferecer repetidas vezes à semelhança do sumo sacerdote que entra no Santo dos Santos todos os anos, com sangue alheio.

Se assim fosse, o Messias precisaria sofrer muitas vezes, desde o começo do mundo. Mas agora ele apareceu uma vez por todas no fim dos tempos, para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo.

Da mesma forma, como o homem está destinado a morrer uma só vez e depois disso enfrentar o juízo, assim também o Messias foi oferecido em sacrifício uma única vez, para tirar os pecados de muitos; e aparecerá segunda vez, não para tirar o pecado, mas para trazer salvação aos que o aguardam. Hebreus 9:24-28

O sangue de Yeshua é puro e perfeitamente adequado em valor para pagar por todos os pecados da humanidade em todas as épocas, é muito precioso e foi dado por nós pelo grande amor do nosso Deus.


Ainda que o valor desse sangue seja para todos, infelizmente não serão todos que receberão essa redenção;

Depois do sofrimento de sua alma, ele verá a luz e ficará satisfeito; pelo seu conhecimento meu servo justo justificará a muitos, e levará a iniquidade deles. Isaías 53:11

O Messias justificará muitos, mas não todos porque somente os que se humilham na presença do Eterno e reconhecem o sacrifício de Yeshua é que receberão o perdão, todos os que o rejeitam serão também rejeitados e continuarão com a culpar das falhas cometidas e responderão por elas no dia do juízo juntamente com todos os que não se arrependeram na era mais antiga do texto bíblico e não ofereceram ofertas pelo pecado, pois os que o fizeram tiveram a redenção final e retroativa na morte de Yeshua.


Com estes argumentos chegamos à conclusão de que a lei que estabelece o derramamento de sangue para a justificação do pecado não foi abolida, nem por Yeshua, porque ele não veio abolir, mas cumprir, nem por Ben Zakai, nem por teólogos e nem por rabinos, porque ninguém tem autoridade para mudar o que o Eterno estabeleceu antes da fundação do mundo.


Alegrem-se todos os que foram perdoados por Yeshua, porque receberam um presente que não pode ser comprado por dinheiro nenhum neste mundo.

Escrito por

Rosh Gilberto Branco

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