Gálatas, uma carta incompreendida - Parte 04
Por Rosh Gilberto Branco
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Damos sequência agora com o estudo do capítulo 4 da Carta aos Gálatas.
No capítulo três vimos que Shaul enfatiza a fraqueza da comunidade por se deixar seduzir pelo legalismo. Vamos ver a continuidade dos seus ensinos;
Digo, porém, que enquanto o herdeiro é menor de idade, em nada difere de um escravo, embora seja dono de tudo.
No entanto, ele está sujeito a guardiães e administradores até o tempo determinado por seu pai. Gálatas 4:1,2
Em qualquer família sabemos que os filhos são herdeiros dos pais, seja de apenas alguns objetos ou de grandes fortunas e bens, mas ainda que tenham direito a tudo, enquanto o pai for o provedor da família eles não podem dispor da sua herança, não podem vender, negociar ou fazer qualquer outra coisa por não terem direito para isso.
Enquanto dependentes do pai, eles vão sendo preparados para um dia poderem receber o direito sobre todos os bens e poderem administrar adequadamente o que irão possuir.
Aplicando o conceito a nós no que diz respeito a herança divina;
Assim também nós, quando éramos menores, estávamos escravizados aos princípios elementares do mundo.
Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido debaixo da Torá, a fim de redimir os que estavam sob a Torá, para que recebêssemos a adoção de filhos. Gálatas 4:3-5
O ser humano, quando nasce, está condicionado a assimilar tudo do meio material e da sociedade onde irá viver. Desde cedo aprende os costumes ensinados pela família e com as pessoas do seu relacionamento e atividades, e tudo isso relacionado ao meio material da sua existência.
Todas as pessoas ficam presas ao seu meio, escravizadas até, e parece que toda a sua existência se resume nisso, os anseios materiais. Só não se aprende na sociedade humana que a vida é mais do que isso.
Aqueles que se abrem para descobrir que há algo mais, encontram dificuldades, pois a sociedade humana não pode resolver a questão, por isso dependemos totalmente da ação do nosso Criador, pois somente Ele sabe mais do que o que vemos ao nosso redor.
O Eterno, sabendo de todas as coisas, já preparou de antemão os meios para podermos aprender e sair dessa escravidão.
Observemos a linguagem usada por Shaul, quando se completou o tempo determinado o Eterno “enviou” o seu Filho. Para os que ainda não entenderam que Yeshua não veio por qualquer participação da parte de Mirian ou Yossef, o texto diz que Ele enviou, não diz que gerou, criou ou escolheu uma criança já gerada em uma mulher, mas enviou de si mesmo usando uma mulher em uma sociedade onde a Torá era a constituição das leis da nação, para libertar os que estavam dominados pela condenação da Torá junto com a sociedade humana secular e fossem transformados em filhos adotivos do Eterno, com direto a outra herança.
Então tudo muda;
E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho aos seus corações, o qual clama: "Aba, Pai".
Assim, você já não é mais escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também o tornou herdeiro. Gálatas 4:6,7
Uma vez tornados filhos, o Eterno providencia algo para nos preparar para essa nova vida, Ele manda o Espírito do seu Filho unigênito, mas não, não é um fantasma do filho, é o mesmo Espírito que estava na criação, a sua própria parte ativa na vida dos filhos.
Devido a isso reconhecemos o Criador como Pai de verdade, não um ser divino alheio e distante.
E ao mesmo tempo aprendemos que nos tornamos herdeiros de um reino extremamente maravilhoso, do qual não tínhamos direito anteriormente.
Diante disso, que loucura eles estavam fazendo;
Antes, quando vocês não conheciam a Deus, eram escravos daqueles que, por natureza, não são deuses.
Mas agora, conhecendo a Deus, ou melhor, sendo por ele conhecidos, como é que estão voltando àqueles mesmos princípios elementares, fracos e sem poder? Querem ser escravizados por eles outra vez? Gálatas 4:8,9
A sociedade humana costuma apresentar deuses da sociedade, deuses impessoais apenas atrelados a rituais, celebrações e regras criadas pelos próprios homens para se sentirem justificados.
É curioso, mas é possível se dizer que se serve ao Criador, que se obedece à Torá de Moisés, que se dedica à religião e mesmo assim estar muito longe de conhece-lo.
Mas como assim? Pode alguém perguntar!
É só a pessoa usar o nome do Eterno, mas o seu coração estar longe dele. Para essa pessoa o Eterno é apenas um ícone, um conceito abstrato de uma divindade, porém distante não fazendo parte da vida interior da pessoa.
Mas Shaul disse que os gálatas sabiam quem era o Eterno de verdade, mas ele não entendia como poderiam abdicar disso e voltar a viver como se o Eterno fosse um ser abstrato, novamente presos a conceitos fracos e que não podiam satisfazer a necessidade da alma. Voltariam a se tornar escravos de conceitos humanos.
Esse retrocesso dos gálatas parece com o que vejo em algumas pessoas nos dias de hoje;
Vocês estão observando dias especiais, meses, ocasiões específicas e anos!
Temo que os meus esforços por vocês tenham sido inúteis. Gálatas 4:10,11
Pessoas antes cheias de alegria no Espírito do Eterno, cheias de esperança na redenção e esperança de vida eterna, agora se prendem a ritos e celebrações, como se o que viveram antes tivesse sido um equívoco.
Shaul tinha um apreço especial para com os gálatas:
Eu lhes suplico, irmãos, que se tornem como eu, pois eu me tornei como vocês. Em nada vocês me ofenderam; como sabem, foi por causa de uma doença que lhes preguei as Boas Novas pela primeira vez.
Embora a minha doença lhes tenha sido uma provação, vocês não me trataram com desprezo ou desdém; pelo contrário, receberam-me como se eu fosse um anjo de Deus, como o próprio Messias Yeshua. Gálatas 4:12-14
Da mesma forma como ele os considerava, ele esperava ser considerado também, as suas palavras demonstram essa consideração.
Não temos informações mais precisas, mas parece que durante alguma viagem Shaul parou na Galácia por algum inconveniente de saúde, e nessa oportunidade ele falou sobre o Messias a eles e as suas palavras foram recebidas de tão bom grado que ele foi tratado com muita deferência.
Shaul os deixou com muita felicidade por terem conhecido Yeshua;
Que aconteceu com a alegria de vocês? Tenho certeza que, se fosse possível, vocês teriam arrancado os próprios olhos para dá-los a mim.
Tornei-me inimigo de vocês por lhes dizer a verdade? Gálatas 4:15,16
Possivelmente Shaul se refere ao fato de que se fosse possível eles lhes dariam os próprios olhos por ter sido esse o problema de saúde que o obrigou a parar por lá.
Shaul sentia a responsabilidade de sempre falar a verdade a toda comunidade messiânica, mesmo que ela doesse, ele não se omitia de dizer o que era necessário só para parecer bonzinho, atitude que muitos líderes deveriam aprender a fazer, pois assim vidas poderiam ser salvas, e era exatamente o que estava fazendo com os gálatas.
Shaul identifica os que estavam interferindo na doutrina dos irmãos da Galácia;
Os que fazem tanto esforço para agradá-los, não agem bem, mas querem isolá-los a fim de que vocês também mostrem zelo por eles.
É bom sempre ser zeloso pelo bem, e não apenas quando estou presente. Gálatas 4:17,18
Eles estavam sendo bajulados com doutrinas fáceis de cumprir, pois o legalismo é simples, não requer mudança do interior das pessoas, só o exterior. E essas pessoas invejavam a atenção que Shaul recebia da comunidade.
A reprimenda de Shaul diz respeito a manterem a fidelidade ao que aprenderam mesmo quando ele não estiver presente com eles, pois ser volúvel com as coisas do Eterno é um erro muito comum, por isso todos devem solidificar a sua fé, para não serem carregados por qualquer vento de doutrina, conforme ele mesmo escreveu à comunidade de Éfeso;
O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Efésios 4:14
O interesse de Shaul para com eles era intenso;
Meus filhos, novamente estou sofrendo dores de parto por sua causa, até que o Messias seja formado em vocês.
Eu gostaria de estar com vocês agora e mudar o meu tom de voz, pois estou perplexo quanto a vocês. Gálatas 4:19,20
Tratando-os como filhos ele demonstra a afinidade que sentia. O que ele comparou a dores de parto diz respeito à grande preocupação para que o fundamento da salvação seja firmemente enraizado nos seus corações.
Era frustrante ter que escrever de longe e não poder sentir ao vivo a situação e então medir as palavras e o tom da voz, mas ele estava surpreso com a atitude que eles tomaram na sua ausência.
Shaul expõe agora uma doutrina embasada nas Escrituras;
Digam-me vocês, os que querem estar debaixo da Torá: Acaso vocês não ouvem a Torá?
Pois está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da livre.
O filho da escrava nasceu de modo natural, mas o filho da livre nasceu mediante promessa. Gálatas 4:21-23
Aos volúveis, pensem e raciocinem sobre os filhos de Abraão, um veio do relacionamento do patriarca com uma mulher fértil, Hagar a serva, ele foi gerado de forma natural, mas o filho prometido foi gerado em uma mulher estéril impedida de engravidar, demonstrando o poder do Eterno.
Shaul dá a interpretação do que citou;
Isso é usado aqui como uma ilustração; estas mulheres representam duas alianças. Uma aliança procede do monte Sinai e gera filhos para a escravidão: esta é Hagar.
Hagar representa o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à atual cidade de Jerusalém, que está escravizada com os seus filhos. Gálatas 4:24,25
Hagar e Sara representam cada uma delas uma forma de relacionamento com a instrução vinda do Eterno.
Hagar foi a primeira, portanto, a primeira aliança, seu filho Ismael foi o primeiro gerado por Abraão, tinha todo o direito de filho, mas não pôde ser incluído na linhagem prometida ao patriarca.
A aliança do Sinai impõe regras que todos os hebreus que compõem a nação precisam cumprir, sejam próximos ao Eterno ou não, são regras impositivas cujo não cumprimento pode até ser punido com a morte.
Todos os israelitas estão debaixo dessas leis, elas são significativas e expressam o padrão esperado dos homens pelo Criador, mas o seu cumprimento é compulsório, ninguém está livre para descumpri-las.
Assim, tal qual era no passado, também o é a atual cidade de Jerusalém, totalmente governada por regras impositivas definidas pelos religiosos ortodoxos que oprimem a liberdade de opinião, principalmente dos messiânicos que moram em Israel.
Mas referindo-se a Sara ele esclarece;
Mas a Jerusalém do alto é livre, e essa é a nossa mãe.
Pois está escrito: "Regozije-se, ó estéril, você que nunca teve um filho; grite de alegria, você que nunca esteve em trabalho de parto; porque mais são os filhos da mulher abandonada do que os daquela que tem marido".
Vocês, irmãos, são filhos da promessa, como Isaque. Gálatas 4:26-28
Citando a Jerusalém celeste, Shaul não se baseou na cidade descrita no livro do Apocalipse, porque ainda não havia sido escrito, mas sim no seu entendimento anterior sobre o assunto, pois era um conceito que permeava o entendimento dos messiânicos nessa época e temos algumas citações de uma cidade celeste como por exemplo em Hebreus;
Pois ele esperava a cidade que tem alicerces, cujo arquiteto e edificador é Deus. Hebreus 11:10
Onde é dito que Abraão já tinha esperanças em uma habitação especial que não era deste mundo.
Então Shaul diz que a Jerusalém do alto é diferente, onde o governo é do nosso Deus, portanto há liberdade e os seus filhos são livres, filhos da promessa. Isaque é o modelo.
A nova aliança apresentada por Yeshua é a nossa libertação das amarras da Torá, onde estão sujeitos a um novo conceito de obediência somente os filhos do Eterno, pois o fazem voluntariamente, não com leis civis que todos devem se submeter sem escolha, mas onde o prazer de obedecer é a rotina de vida dos salvos.
As consequências do tipo de submissão a que uma pessoa escolhe são importantes;
Naquele tempo, o filho nascido de modo natural perseguia o filho nascido segundo o Espírito. O mesmo acontece agora.
Mas o que diz a Escritura? "Mande embora a escrava e o seu filho, porque o filho da escrava jamais será herdeiro com o filho da livre". Gálatas 4:29,30
Aqui Shaul não está se referindo apenas a Ismael, mas a todos os que escolhem se submeter ao Sinai, ou seja, ao legalismo da Torá.
Que fique claro, ser legalista é uma péssima escolha, trocar a liberdade experimentada com a vida em Yeshua por uma pretensa santificação por celebrar shabat, rezar sidur, comemorar o Pessach na forma judaica, negar a divindade de Yeshua e coisas do tipo, é pedir para ser mandado para fora do convívio com o Ruach haKodesh. Preste bastante atenção em todo o ensino de Shaul.
Assim termina o capítulo quatro desta carta;
Portanto, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da livre. Gálatas 4:31
Se é assim, não abdique do que já recebeu com Yeshua, é um grande desperdício.
Esta é a quarta parte do estudo sobre a Carta aos Gálatas.
No próximo estudo teremos a continuação.
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