Gálatas, uma carta incompreendida - Parte 03
Por Rosh Gilberto Branco
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Damos sequência agora ao estudo do capítulo 3 da Carta aos Gálatas.
No capítulo dois vemos que Shaul é enfático na sua repreensão à comunidade;
Ó gálatas insensatos! Quem os enfeitiçou? Não foi diante dos seus olhos que Yeshua o Messias foi exposto como crucificado? Gálatas 3:1
Ele usou uma linguagem chamativa e severa.
Insensatez; SUBSTANTIVO
- Característica do que é insensato; falta de juízo, loucura.
Feitiço; ADJETIVO
- Ação ou prática própria de feiticeira ou feiticeiro; sortilégio, bruxaria, enfeitiçamento, utilização de forças mágicas, com finalidade divinatória ou intenções malfazejas.
Shaul chama a atenção para a falta de bom senso dos messiânicos da Galácia, aceitar uma mudança de doutrina tão sem propósito e sem razão parece loucura, dá a impressão de que as mentes das pessoas foram manipuladas por poderes sobrenaturais do mal, o que não deixa de ter algum sentido, afinal, satan insinua “doutrinas de demônios” nos ouvidos das pessoas.
Ele relembra que o que foi ensinado a eles quando foram pregadas as Boas Novas de Yeshua, foi que Yeshua morreu no madeiro como condição para perdoar os pecados sem nenhum critério associado a cerimônias, sacrifícios ou rezas.
A seguir ele questiona;
Gostaria de saber apenas uma coisa: foi pela prática da Torá que vocês receberam o Espírito, ou pela fé naquilo que ouviram? Gálatas 3:2
Shaul cobra o reconhecimento de que houve uma ação sobrenatural para que eles entendessem sobre a redenção no sacrifício de Yeshua.
Houve uma experiência com a ação do Ruach que os levou a crerem quando ouviram sobre o plano da redenção, mas aparentava que eles haviam se esquecido e que a simples exposição de uma nova doutrina conflitante foi facilmente aceita, e tudo o que Shaul havia ensinado foi ignorado, sem nem mesmo terem sentido a confirmação ou não da parte do Eterno.
Houve uma inversão de valores, a prática da Torá é para quem já foi alcançado pela redenção no Messias e não é a prática das regras que leva à redenção.
É vergonhoso diante do Eterno ser reconhecido como insensato desta forma;
Será que vocês são tão insensatos que, tendo começado pelo Espírito, querem agora se aperfeiçoar pelo esforço próprio? Gálatas 3:3
Existem pessoas que agem dessa forma e isso parece um contrassenso, experimentam uma verdadeira transformação quando recebem o Messias em sua vida, sentem-se livres do pecado e reconciliados com o Criador, entendem que o sangue que Yeshua derramou no madeiro foi o preço pago pelo seu pecado, entendem que podem ser chamados de filhos de Deus por causa disso, tem a certeza de redenção esperando a segunda vinda do Messias, mas de repente, isso não vale mais, pensam que é preciso cumprir as 613 ordenanças que Maimônides escreveu para agradar o Eterno e nada daquilo vale mais. Isso é uma insensatez.
Ser fiel ao Eterno não nos traz apenas a paz, mas também tribulações;
Será que foi inútil sofrerem tantas coisas? Se é que foi inútil! Gálatas 3:4
Com certeza eles tiveram experiência desagradáveis, mas também aprenderam o que Yeshua disse;
"Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Mateus 5:11
Deveriam exultar nas tribulações, mas parece que mudaram de opinião, o que deveriam ter aprendido com as experiências evaporou, e um conceito equivocado tomou o seu lugar.
Qualquer um que tenha experimentado o toque do Espírito de Deus, sentido o seu poder e visto maravilhas na sua própria vida, sabe que não foi por realizar cerimônias ou cumprir regras que isso aconteceu;
Aquele que lhes dá o seu Espírito e opera milagres entre vocês, realiza essas coisas pela prática da Torá ou pela fé com a qual receberam a palavra? Gálatas 3:5
Fica então a pergunta, “O Eterno valoriza o cumprimento de regras escritas ou a confiança depositada nele pelos que o amam?”
Fica fácil responder se considerarmos que qualquer pessoa pode cumprir regras, mesmo que não se importe com o criador das regras, mas amar o Eterno é somente para aqueles que desejam se aproximar dele, dedicam a sua vida a Ele e cumprem as suas orientações não por imposição, mas por amar.
Shaul justifica o seu comentário baseado na Torá;
Considerem o exemplo de Abraão: "Ele creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça".
Estejam certos, portanto, de que os que são da fé, estes é que são filhos de Abraão. Gálatas 3:6,7
Muitos estão tão presos ao cumprimento de regras, que não atentam a detalhes importantes que pessoas com a competência de Shaul não deixam passar.
Abraão é muito reverenciado pelos judeus e referência de fé para os cristãos. O que muitos judaizantes não atentam é que o patriarca não tinha a Torá como referência para cumprir as alianças que ainda não haviam sido estabelecidas para os seus descendentes, então podemos dizer que ele foi justificado pelo fato de ter se aproximado e adquiriu afinidade com o Deus que se revelou a ele.
Abraão creu e confiou, não fez cerimônias, não celebrou festas, não lia o sidur, não guardou o shabat e nem leu a Torá, um verdadeiro escândalo para muitos ditos tsadikim contemporâneos, mas com certeza foi amado pelo Criador.
O que Shaul concluiu agora deve deixar muitos conservadores arrepiados;
Prevendo a Escritura que Deus justificaria pela fé os gentios, anunciou primeiro as boas novas a Abraão: "Por meio de você todas as nações serão abençoadas".
Assim, os que são da fé são abençoados juntamente com Abraão, homem de fé. Gálatas 3:8,9
A Torá registra a previsão da justificação dos gentios pela descendência de Abraão, e fica claro nos dias de hoje que os discípulos de Yeshua (todos judeus) levaram as Boas Novas do Messias e não as regras da Torá para as nações, assim se Abraão foi justificado por confiar, os gentios serão justificados pelo mesmo critério.
Shaul continuou detalhando;
Já os que são pela prática da Torá estão debaixo de maldição, pois está escrito: "Maldito todo aquele que não persiste em praticar todas as coisas escritas no livro da Torá". Gálatas 3:10
Para uma correta interpretação é necessário que se atente a cada palavra do que Paulo disse.
Aqueles que ensinam que são justificados pela prática da Torá continuam sob a sombra da maldição, pois como a Torá não justifica, mas somente aponta o pecado do homem, veem acumularem falhas nas suas vidas, pecado após pecado e não veem meio de purificação, apenas alertas “não faça isso”, ou “faça aquilo”, mas nenhum meio de pagar as dívidas com o Eterno.
Explicando mais detalhadamente;
É evidente que diante do Eterno ninguém é justificado pela Torá, pois "o justo viverá pela fé".
A Torá não é baseada na fé; pelo contrário, "quem praticar estas coisas, por elas viverá". Gálatas 3:11,12
Veja-se que foi um judeu fariseu e mestre da Torá quem escreveu estas coisas, ele se lembrou do texto de;
Escreva: "O ímpio está envaidecido; seus desejos não são bons; mas o justo viverá pela sua fé. Habacuque 2:4
Para que as instruções da Torá fossem eficientes para manter uma pessoa pura e livre do pecado, essa pessoa precisaria nunca ter transgredido nem mesmo a mais simples instrução, o que sabemos ser impossível para o ser humano.
Todos os homens, sejam judeus ou gentios, estão debaixo da condenação que a Torá apresenta;
O Messias nos redimiu da maldição da Torá quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: "Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro".
Isso para que no Messias Yeshua a bênção de Abraão chegasse também aos gentios, para que recebêssemos a promessa do Espírito mediante a fé. Gálatas 3:13,14
Quando o descendente de Abraão se submeteu a receber o “castigo que nos traz a paz”, Ele sofreu tudo o que era possível no rebaixamento do ser humano, foi condenado sendo inocente, foi humilhado, desprezado, torturado, ferido gravemente, e no final, uma execução que amaldiçoa. Só que Yeshua era puro, de linhagem real e abençoado, nunca poderia ter passado pelo que passou, mas para que nós pudéssemos ser justificados Ele tomou o nosso lugar, Ele assumiu a maldição para nos livrar da condenação eterna, assim o corpo de Yeshua morreu no nosso lugar, mas o Messias ressuscitou vencendo a morte e apagando a maldição.
Quando o Eterno falou com Abraão, Ele selou uma vontade como testamento, assim fica imutável o que foi ratificado;
Irmãos, humanamente falando, ninguém pode anular um testamento depois de ratificado, nem lhe acrescentar algo.
Assim também as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. A Escritura não diz: "E aos seus descendentes", como se falando de muitos, mas: "Ao seu descendente", dando a entender que se trata de um só, isto é, o Messias. Gálatas 3:15,16
O que foi definido pelo Criador fica inalterável, pois vindo dele é perfeito e não tem nada para ser alterado.
Shaul chamou a atenção para apalavra “semente” em hebraico que está no singular em Gênesis 12.7, mas traduzido como descendência, o que não fica muito preciso em português, o que se entende que se refere a um descendente, o mais importante de todos, e não foi Moisés, foi Yeshua.
Vejam só que interessante esse detalhe visto por Shaul;
Quero dizer isto: A Torá, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não anula a aliança previamente estabelecida por Deus, de modo que venha a invalidar a promessa.
Pois, se a herança depende da Torá, já não depende de promessa. Deus, porém, concedeu-a gratuitamente a Abraão mediante promessa. Gálatas 3:17,18
A grande aliança de redenção feita pelo Eterno com o mundo, foi feita através de Abraão, lembrando que o povo de Israel ainda não existia, então a promessa é tanto para os gentios quanto aos judeus, portanto quando Moisés trouxe outras alianças com a Torá, agora com Israel, elas não anularam a que fora feita por promessa séculos antes com o patriarca.
Com tudo o que Shaul disse até agora, parece até que ele despreza a Torá!
Mas não, muito pelo contrário, ele sabia muito bem o valor de tudo o que provém do Eterno e deixa claro isso;
Qual era então o propósito da Torá? Foi acrescentada por causa das transgressões, até que viesse o Descendente a quem se referia a promessa, e foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador.
Contudo, o mediador representa mais de um; Deus, porém, é um.
Gálatas 3:19,20
Sem a Torá para orientar uma nação como Israel, o mundo não saberia muita coisa sobre a natureza do nosso Criador, a Torá aponta a fraqueza humana, nos mostra como realmente somos e não como pensamos que somos.
Ela instrui o povo de Israel a oferecer a vida de animais para cobrir a mancha dos seus pecados, tudo isso apontando a vinda do Messias e Redentor final das nossas almas. A Torá e Yeshua estão intimamente ligados.
Os detalhes comentados por Shaul são muito esclarecedores;
Então, a Torá opõe-se às promessas de Deus? De maneira nenhuma! Pois, se tivesse sido dada uma lei que pudesse conceder vida, certamente a justiça viria da lei. Gálatas 3:21
Nem todos entendem isso com facilidade, mas Paulo é claro na sua explicação.
Se existisse uma lei na Torá que realmente justificasse o homem, a promessa feita a Abraão seria superada, mas como alguma coisa que vem do Eterno pode ser superada, Ele não perde tempo com coisas passageiras, mas sim, Ele tem um plano completo e perfeito.
A Torá continua efetiva;
Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, a fim de que a promessa, que é pela fé em Yeshua o Messias, fosse dada aos que creem. Gálatas 3:22
Sem as diretrizes da Torá não saberíamos avaliar corretamente todo o ministério de Yeshua, mostrando que desde o princípio que é a confiança no Eterno o caminho para a redenção finalmente alcançada pelo Messias.
Antes da vinda do Messias era apenas a esperança de que a redenção viria;
Antes que viesse esta fé, estávamos sob a custódia da Torá, nela encerrados, até que a fé que haveria de vir fosse revelada. Gálatas 3:23
No período pré-messiânico não havia opção, as pessoas ficavam cientes do seu pecado e precisavam fazer um ritual para mostrar que estavam arrependidas, mas só valiam se fosse com sinceridade.
A importância da Torá fica evidente neste comentário;
Assim, a Torá foi o nosso tutor até o Messias, para que fôssemos justificados pela fé.
Agora, porém, tendo chegado a fé, já não estamos mais sob o controle do tutor. Gálatas 3:24,25
Antes qualquer pessoa sincera precisava se adequar à Torá a todo custo, não havia outra escolha, mas agora o acesso à solução mudou.
Os pecados continuam os mesmos da Torá, mas através de Yeshua descobrimos o caminho que Abraão experimentou para alcançar a justificação, a confiança.
A nossa condição hoje é de muita confiança e experiência com o Espírito do Eterno;
Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé no Messias Yeshua, pois os que no Messias foram batizados, do Messias se revestiram. Gálatas 3:26,27
A imersão é mais do que um ritual, é uma declaração pública da nossa escolha e do nosso amor ao Eterno, e nos revestimos da presença de Yeshua como uma verdade inquestionável.
Eis a prova sobre a derrubado do muro da separação;
Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um no Messias Yeshua.
E, se vocês são do Messias, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa. Gálatas 3:28,29
Para a felicidade de muitos, não é necessário se tornar judeu para ter o direito de usufruir da misericórdia do Eterno pela redenção messiânica, basta reconhecer o seu pecado e pedir por perdão àquele que deu sua vida por todos os povos da Terra.
Ser descendência de Abraão segundo a promessa não implica em ser incluso na sua herança genética, pois tornar-se filho de Deus é muito mais importante do que alegar ser descendente e filho de Abraão.
Esta é a terceira parte do estudo sobre a Carta aos Gálatas.
No próximo estudo teremos a continuação.
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