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Gálatas, uma carta incompreendida - Parte 02

24/12/2022
Por Rosh Gilberto Branco

Tempo de leitura: minutos


Damos sequência agora ao estudo do capítulo 2 da Carta aos Gálatas.


Vimos no final do primeiro capítulo que Shaul esteve em Jerusalém e depois saiu por várias partes do mundo levando a mensagem do Messias;

Catorze anos depois, subi novamente a Jerusalém, dessa vez com Barnabé, levando também Tito comigo.

Fui para lá por causa de uma revelação e expus diante deles o evangelho que prego entre os gentios, fazendo-o, porém, em particular aos que pareciam mais influentes, para não correr ou ter corrido em vão. Gálatas 2:1,2

Muito cedo Shaul entendeu que deveria levar as Boas Novas aos gentios e o fez com dedicação.

Ele foi dar testemunho à liderança messiânica de Jerusalém sobre o que estava fazendo e como estava divulgando entre os gentios a salvação através de Yeshua.


É de admirar o quanto Shaul foi esclarecido sobre a relação entre os gentios e a mensagem do Messias, muitos já estavam sendo alcançados e alguns até se tornaram líderes muito cedo;

Mas nem mesmo Tito, que estava comigo, foi obrigado a circuncidar-se, apesar de ser grego.

Essa questão foi levantada porque alguns falsos irmãos infiltraram-se em nosso meio para espionar a liberdade que temos no Messias Yeshua e nos reduzir à escravidão.

Não nos submetemos a eles nem por um instante, para que a verdade do evangelho permanecesse com vocês. Gálatas 2:3-5

Deixando claro, Tito era grego sem ascendência judaica e andava com Paulo anunciando as Boas Novas, ele tinha livre circulação entre os apóstolos e líderes messiânicos do primeiro século, e nem por isso exigiram que ele fosse circuncidado.

Mas parece que já nesses primeiros dias haviam infiltrados de satã para gerar confusão entre os filhos de Deus, mas Shaul deixou bem claro que o assunto é grave e devia ser combatido.


À primeira vista dá impressão de uma certa arrogância por parte de Paulo;

Quanto aos que pareciam influentes — o que eram então não faz diferença para mim; Deus não julga pela aparência — tais homens influentes não me acrescentaram nada.

Pelo contrário, reconheceram que a mim havia sido confiada a pregação do evangelho aos incircuncisos, assim como a Pedro, aos circuncisos. Gálatas 2:6,7

Mas ao analisarmos bem o texto vemos que não é bem assim.

Já começamos identificando que Shaul não estava desmerecendo nem atropelando nenhuma ordem hierárquica, mesmo porque cargos não foram citados, mas algumas pessoas “influentes”, seriam pessoas bem quistas na comunidade messiânica, pessoas que pregavam, ensinavam e atuavam de maneira útil para o corpo do Messias. Shaul os identificou apenas como influenciadores.

Shaul se apresentou como estando no mesmo nível deles, a sua experiência entre as comunidades estrangeiras por um longo tempo e a comunhão com o Eterno lhe deram um nível de conhecimento similar ao que essas pessoas tinham frequentando o meio dos apóstolos e discípulos de Yeshua.

Em suas conversas, ficou clara a identificação do chamado de cada pessoa e o reconhecimento de que Paulo tinha um chamado distinto entre os gentios, ao mesmo tempo que reconheciam que Kefa tinha o mesmo chamado, mas para os judeus. Não que eles não cruzassem as fronteiras, tanto Paulo pregava para judeus, quanto Kefa pregava para gentios, mas seus chamados foram reconhecidos.


Assim foram definidos conforme o texto;

Pois Deus, que operou por meio de Pedro como apóstolo aos circuncisos, também operou por meu intermédio para com os gentios. Gálatas 2:8

Ou seja, essa escolha não foi feita pelo colegiado apostólico, mas foi uma capacitação vinda do alto.


Não foram os apóstolos que escolheram e ungiram os apóstolos, mas simplesmente estenderam as mãos sobre eles em sinal de reconhecimento;

Reconhecendo a graça que me fora concedida, Jacó, Pedro e João, tidos como colunas, estenderam a mão direita a mim e a Barnabé em sinal de comunhão. Eles concordaram em que devíamos nos dirigir aos gentios, e eles, aos circuncisos.

Somente pediram que nos lembrássemos dos pobres, o que me esforcei por fazer. Gálatas 2:9,10

A imposição de mãos não é o que define o ministério de alguém, é só o reconhecimento do que foi feito anteriormente pelo próprio Criador.


Lembremos que nenhum dos apóstolos ou discípulos de Yeshua tinha melhor formação religiosa tradicional do seu tempo do que Shaul, mas mesmo assim os textos do livro de Atos mostram que apesar do conhecimento que ele tinha das tradições restritivas, ele entendeu melhor do que ninguém o que significou a derrubada do muro de separação entre os judeus e os gentios que ele descreveu em Efésios 2.14;

Quando, porém, Pedro veio a Antioquia, enfrentei-o face a face, por sua atitude condenável.

Pois, antes de chegarem alguns da parte de Jacó, ele comia com os gentios. Quando, porém, eles chegaram, afastou-se e separou-se dos gentios, temendo os que eram da circuncisão.

Os demais judeus também se uniram a ele nessa hipocrisia, de modo que até Barnabé se deixou levar. Gálatas 2:11-13

Hoje em dia vemos algumas pessoas querendo reconstruir a parede agindo de modo similar a Kefa e os outros judeus messiânicos que se distraíram e agiram por impulso.

Quando fora de Israel, os discípulos de Yeshua sentiam-se à vontade entre os gentios que comungavam da mesma fé, celebravam juntos e se davam mesmo o direito de fazerem algumas coisas que eram costumes gentílicos, mas que naturalmente não ofendiam a Torá, mantendo uma atmosfera de comunhão e fraternidade.

Tão logo ocorreu de chegarem alguns irmãos vindos de Israel, enviados por Jacó, Kefa primeiro e depois outros dos judeus messiânicos em Antioquia, se sentiram desconfortáveis por estarem muito à vontade entre os gentios e mudaram de comportamento para não serem questionados e afrontados pelos visitantes, receando serem julgados como desertores do judaísmo, o que bem classificou Shaul como hipocrisia.

No final, eles acabaram sendo mais envergonhados por Paulo do que pelos visitantes.

Hoje em dia vemos pessoas de origem gentílica querendo ser vistos pela comunidade judaica como judeus, e agem de forma tão radical que esperam serem reconhecidos pelo cumprimento das tradições e acabam excluindo a comunidade cristã do seu rol de relacionamento, e às vezes até atacando de forma generalizada.

Uma das principais características do Movimento Judaico Messiânico original é justamente o bom relacionamento com a Igreja dos lavados e remidos pelo sangue de Yeshua, exatamente como Shaul entendia.


Shaul também cumpriu a determinação de exortar os que estão em posição de destaque como ele escreveu em I Timóteo 5.20, por isso ele chamou a atenção de Kefa diante de todos;

Quando vi que não estavam andando de acordo com a verdade do evangelho, declarei a Pedro, diante de todos: "Você é judeu, mas vive como gentio e não como judeu. Portanto, como pode obrigar gentios a viverem como judeus?

"Nós, judeus de nascimento e não ‘gentios pecadores’, sabemos que ninguém é justificado pela prática da Torá, mas mediante a fé em Yeshua Mashiach. Assim, nós também cremos no Messias Yeshua para sermos justificados pela fé no Messias, e não pela prática da Torá, porque pela prática da Torá ninguém será justificado. Gálatas 2:14-16

Será que os judaizantes do Século XXI já leram as palavras de Paulo?

Algumas pessoas ainda não entenderam que as alianças do Eterno para com os judeus não se aplicam para os gentios, que uma vez que alguém recebe Yeshua como Salvador não se torna um judeu e nem se identifica como tal, que o gentio messiânico tem suas próprias regras pela Torá e é aceito pelo Eterno.


Shaul escreveu a Tito sobre esse tema;

Pois há muitos insubordinados, que não passam de faladores e enganadores, especialmente os do grupo da circuncisão.

É necessário que eles sejam silenciados, pois estão arruinando famílias inteiras, ensinando coisas que não devem, e tudo por ganância.

Um dos seus próprios profetas chegou a dizer: "Cretenses, sempre mentirosos, feras malignas, glutões preguiçosos".

Tal testemunho é verdadeiro. Portanto, repreenda-os severamente, para que sejam sadios na fé e não deem atenção a lendas judaicas nem a mandamentos de homens que rejeitam a verdade.

Para os puros, todas as coisas são puras; mas para os impuros e descrentes, nada é puro. De fato, tanto a mente como a consciência deles estão corrompidas.

Eles afirmam que conhecem a Deus, mas por seus atos o negam; são detestáveis, desobedientes e desqualificados para qualquer boa obra. Tito 1:10-16

O que Shaul já identificava no seu tempo continua existindo, e os “da circuncisão” de hoje nem judeus são, mas produzem os mesmos resultados maléficos.

Fica o alerta, “não deem atenção a LENDAS JUDAICAS e nem a mandamentos de homens”, principalmente daqueles que rejeitam a verdade de Yeshua. Esses prestarão contas ao Eterno, mas você livre-se deles ou será engolido pela mesma maldição.


Sabemos que Moisés recebeu palavras vivas no deserto, conforme Atos 7.38, e que essas palavras são a Torá que aponta o pecado do homem, e que o Messias é esta Torá viva;

Se, porém, procurando ser justificados no Messias descobrimos que nós mesmos somos pecadores, será o Messias então ministro do pecado? De modo algum! Gálatas 2:17

Sabemos que a Torá não justifica, ela mostra que somos pecadores e a palavra de Yeshua também mostra isso, mas o Messias não veio somente para mostrar o pecado, através dele também conseguimos ser justificados, o que a Torá sozinha não consegue.


Neste texto precisamos prestar bastante atenção no objetivo de Shaul;

Se reconstruo o que destruí, provo que sou transgressor.

Pois, por meio da Torá eu morri para a Torá, a fim de viver para Deus. Gálatas 2:18,19

Ele entendeu que não se justifica pela Torá, então se voltar atrás no seu entendimento significaria que permanece sem ser justificado, portanto pecador.

Fica claro que pela Torá é necessário que se morra, e por ter recebido o sacrifício de Yeshua essa morte se tornou válida, portanto, a culpa foi removida pelo Messias que validou o rigor da Torá.


Que condição excepcional podemos viver!

Yeshua como korban (oferta pelo pecado) nos resgatou da morte;

Fui executado no madeiro com o Messias. Assim, já não sou eu quem vive, mas o Messias vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim. Gálatas 2:20

O correto entendimento de Shaul coloca a lei do sacrifício de sangue exigido pela Torá de Moisés perfeitamente atualizado e válido com o derramamento de sangue mais do que adequado, na verdade perfeito, do Messias Yeshua, por isso um só sacrifício jamais repetido.

Ao dizer “a vida que agora vivo no corpo” mostra que houve uma grande mudança, em Yeshua vive-se como nascidos de novo, morreu a velha natureza e nasceu um novo homem da ação do Ruach em transformar o nosso velho “eu”. Agora vivemos na confiança em Yeshua, o Filho de Deus, porque Ele quis fazer isso por amor a nós e supriu a exigência da Torá.


Agora um recado para aqueles que querem relativizar o valor da morte de Yeshua;

Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça vem pela Torá, o Messias morreu inutilmente! Gálatas 2:21

Se alguém realmente consegue ser justificado pelo mero cumprimento das ordenanças da Torá, então o Messias não precisaria ter vindo, para que Ele precisaria passar por provações tão cruéis, tanta dor física, tanta decepção e humilhação? Bastaria que se fizessem sofrer algumas ovelhas, e o Messias não seria o Messias e teria ficado na unidade total com a divindade.

Mas que ninguém se engane, negar a divindade e a messianidade de Yeshua é a pior coisa que uma pessoa pode fazer.


Esta é a segunda parte do estudo sobre a Carta aos Gálatas.

No próximo estudo teremos a continuação.

Escrito por

Rosh Gilberto Branco

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