Estudo sobre Romanos - Parte 03

02/07/2021
Por Rosh Gilberto Branco

Tempo de leitura: minutos


A partir do capítulo 4 da Carta de Shaul aos Romanos, começamos e entender muitos pontos de grande importância sobre o nosso relacionamento com o Eterno.

Avraham é um personagem que serve de referência sobre o que sempre foi o parâmetro único da nossa relação com o Divino, a confiança incondicional.


Portanto, que diremos do nosso antepassado Abraão?

Se de fato Abraão foi justificado pelas obras, ele tem do que se gloriar, mas não diante de Deus.

Que diz a Escritura? "Abraão creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça". Romanos 4:1-3

Shaul escreve como judeu respondendo para um judeu (hipotético), assim desmistificando o caráter legalista das Escrituras, como muitos querem fazer crer, mostrando assim que o foco das Boas Novas na confiança não anula a Torá, muito pelo contrário, mostra que a Torá é fundamentada na confiança.

Existe aqui uma inversão conceitual, muitos aceitam o princípio de que o cumprimento de regras é o objetivo da Torá, ou seja, basta cumprir as ordenanças na sua forma e no tempo certo e assim será aceito pelo Eterno fazendo jus ao Reino de Deus.

Existe um pensamento de que os judeus religiosos, zelosos no cumprimento das instruções talmúdicas, haláchicas e tradicionais estão garantidos como “justos”, portanto, mesmo que não creiam em Yeshua herdarão junto com os messiânicos, mas esse pensamento é de inspiração demoníaca, pois assim não haverá interesse de levar a eles as Boas Novas, e sobre isso veremos em Romanos 10 que Shaul não concorda com essa ideia.

Shaul afirma que Avraham foi justificado somente pela confiança, porque pelas suas ações ele foi exaltado apenas pelos homens. Temos aqui um exemplo clássico de ações realizadas por causa da fé e não como um fim em si.


A explicação dada por Shaul fica bem definida a partir dos versos 4-8;

Ora, o salário do homem que trabalha não é considerado como favor, mas como dívida.

Todavia, àquele que não trabalha, mas confia em Deus que justifica o ímpio, sua fé lhe é creditada como justiça.

Davi diz a mesma coisa, quando fala da felicidade do homem a quem Deus credita justiça independente de obras:

"Como são felizes aqueles que têm suas transgressões perdoadas, cujos pecados são apagados.

Como é feliz aquele a quem o Senhor não atribui culpa". Romanos 4:4-8

Se as nossas obras fossem realizadas num contrato com o Eterno, Ele seria obrigado a retribuir, mas se Ele faz algo por nós pelo qual nada fizemos por merecer, mas tão somente por confiarmos nas suas promessas, então isso definirá a nossa relação. Deus não precisa de favores e nem de ajuda de ninguém, Ele é autossuficiente, mas oferece meios de sermos justificados se nele confiarmos.


É de consenso geral que Avraham é o modelo para todos, pois mesmo os gentios sabem da clareza desta explicação a seguir;

Destina-se esta felicidade apenas aos circuncisos ou também aos incircuncisos? Já dissemos que, no caso de Abraão, a fé lhe foi creditada como justiça.

Sob quais circunstâncias? Antes ou depois de ter sido circuncidado? Não foi depois, mas antes!

Assim ele recebeu a circuncisão como sinal, como selo da justiça que ele tinha pela fé, quando ainda não fora circuncidado. Portanto, ele é o pai de todos os que creem, sem terem sido circuncidados, a fim de que a justiça fosse creditada também a eles; e é igualmente o pai dos circuncisos que não somente são circuncisos, mas também andam nos passos da fé que teve nosso pai Abraão antes de passar pela circuncisão. Romanos 4:9-12

Ninguém, em sã consciência, irá vincular a circuncisão à justiça de Deus, mas não será impossível que surjam pessoas que não tenham “sã consciência”, que considerem “circuncisão” como afinidade com o judaísmo e assim a vinculem à justiça do Eterno.



Nos próximos versos, a palavra lei (nomos – νόμος) tem o significado de legalismo ou lei geral também.

Não foi mediante a lei que Abraão e a sua descendência receberam a promessa de que ele seria o herdeiro do mundo, mas mediante a justiça que vem da fé.

Pois se os que vivem pela lei são herdeiros, a fé não tem valor, e a promessa é inútil; porque a lei produz a punição. E onde não há lei, não há transgressão. Romanos 4:13-15

Então o autor esclarece que nem foi por causa de Avraham e nem da sua descendência que eles receberam a promessa, mas simplesmente porque Avraham confiou, e se dependesse do cumprimento da Lei eles não teriam nada.


No verso 16, está a confirmação de que existe uma paternidade física de Avraham, considerada como descendência “genética” pelos padrões contemporâneos do Século XXI, mas também há a mais importante, que é a descendência da fé, que abrange todos os que experimentam a mesma confiança que o patriarca e não há exame que possa constatar isso, mas o nosso Deus sabe exatamente a quem aplicar a justificação.

Portanto, a promessa vem pela fé, para que seja de acordo com a graça e seja assim garantida a toda a descendência de Abraão; não apenas aos que estão sob o regime da lei, mas também aos que têm a fé que Abraão teve. Ele é o pai de todos nós. Romanos 4:16


Shaul agora detalha mais sobre essa condição de filhos de Avraham, ele não seria pai apenas da nação de Israel, mas de muitas nações;

Como está escrito: "Eu o constituí pai de muitas nações". Ele é nosso pai aos olhos de Deus, em quem creu, o Deus que dá vida aos mortos e chama à existência coisas que não existem, como se existissem.

Abraão, contra toda esperança, em esperança creu, tornando-se assim pai de muitas nações, como foi dito a seu respeito: "Assim será a sua descendência".

Sem se enfraquecer na fé, reconheceu que o seu corpo já estava sem vitalidade, pois já contava cerca de cem anos de idade, e que também o ventre de Sara já estava sem vitalidade.

Mesmo assim não duvidou nem foi incrédulo em relação à promessa de Deus, mas foi fortalecido em sua fé e deu glória a Deus, estando plenamente convencido de que ele era poderoso para cumprir o que havia prometido.

Em consequência, "isso lhe foi também creditado como justiça".

As palavras "lhe foi creditado" não foram escritas apenas para ele, mas também para nós, a quem Deus creditará justiça, para nós, que cremos naquele que ressuscitou dos mortos a Yeshua, nosso Senhor.

Ele foi entregue à morte por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação. Romanos 4:17-25

Quando foi dito ao patriarca “Assim será a sua descendência” entendemos que a mais importante seria a da fé e não a sanguínea.

 A importância do “creditar a justiça” pela confiança é um elemento fundamental para entendermos o plano do Eterno sobre nós com a morte do Messias, crer na sua morte e ressurreição nos garante a justificação.


Começando o capítulo 5, vemos o desenvolvimento do entendimento do final do capítulo anterior, mostrando que a confiança é o verdadeiro caminho para a justificação.

Tendo sido, pois, justificados pela confiança, temos paz com Deus, por nosso Senhor Yeshua haMashiach, por meio de quem obtivemos acesso pela confiança a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.

Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. Romanos 5:1-4

Mas também aprendemos que esse presente vem acompanhado de experiências únicas de lutas e vitórias.


A confiança como base gera a verdadeira esperança.

E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu. Romanos 5:5

Sobre a esperança, pode-se também chamar de expectativa ou admitir uma possibilidade, mas sem garantias ou certeza.

Considerando que a palavra esperança tem raiz em esperar, podemos aplicar o sentido da palavra quando esperamos o que sabemos que virá, mas no contexto secular, qualquer coisa que esperarmos é certo que poderá falhar, pois por mais que a questão seja considerada segura um imprevisto pode ocorrer.

Já quando associada em Deus, a esperança é considerada certa e segura por aqueles que fazem uso da confiança.


Agora fica bem evidente que a justificação está fortemente ligada à pessoa de Yeshua e à sua morte vicária (que fica no lugar de outro).

De fato, no devido tempo, quando ainda éramos fracos, o Messias morreu pelos ímpios.

Dificilmente haverá alguém que morra por um justo; pelo homem bom talvez alguém tenha coragem de morrer.

Mas Deus demonstra seu amor por nós: O Messias morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores. Romanos 5:6-8

Esta declaração é de uma importância tão grande, que o simples fato de uma pessoa rejeitar esse sacrifício como real e aplicável na sua vida já dá para tentar imaginar o sentimento do Eterno sobre essa ingratidão!


Fico admirado do quanto Shaul se aprofundou no conhecimento sobre o Mashiach, considerando que a mentalidade judaica da época tinha tanta resistência ao assunto quanto o tem hoje.

Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de Deus por meio dele!

Se quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a morte de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por sua vida!

Não apenas isso, mas também nos gloriamos em Deus, por meio de nosso Senhor Yeshua haMashiach, mediante quem recebemos agora a reconciliação. Romanos 5:9-11

Só um espírito afinado com o Espírito de Deus pode entender essas coisas, e isso não era privilégio somente do shaliach, nós precisamos da mesma comunhão para entendermos a mesma coisa, o que significa que não adianta uma pessoa pensar que é erudita e estudada, se o coração não for humilde o espírito dela estará sozinho e desafinado.


Agora este último grupo de versículos trás muito sobre o que pensar.

Durante séculos teólogos, tanto cristãos quanto judeus debatem sobre um tema que encontra fundamento nesta passagem, e o assunto é sobre o chamado “pecado original”.

Portanto, da mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram; pois antes de ser dada a lei, o pecado já estava no mundo. Mas o pecado não é levado em conta quando não existe lei.

Todavia, a morte reinou desde o tempo de Adão até o de Moisés, mesmo sobre aqueles que não cometeram pecado semelhante à transgressão de Adão, o qual era um tipo daquele que haveria de vir.

Entretanto, não há comparação entre a dádiva e a transgressão. Pois se muitos morreram por causa da transgressão de um só, muito mais a graça de Deus, isto é, a dádiva pela graça de um só homem, Yeshua o Messias, transbordou para muitos!

Não se pode comparar a dádiva de Deus com a consequência do pecado de um só homem: por um pecado veio o julgamento que trouxe condenação, mas a dádiva decorreu de muitas transgressões e trouxe justificação.

Se pela transgressão de um só a morte reinou por meio dele, muito mais aqueles que recebem de Deus a imensa provisão da graça e a dádiva da justiça reinarão em vida por meio de um único homem, Yeshua o Messias.

Consequentemente, assim como uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na justificação que traz vida a todos os homens.

Logo, assim como por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores, assim também, por meio da obediência de um único homem muitos serão feitos justos.

A lei foi introduzida para que a transgressão fosse ressaltada. Mas onde aumentou o pecado, transbordou a graça, a fim de que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reine pela justiça para conceder vida eterna, mediante Yeshua o Messias, nosso Senhor. Romanos 5:12-21

É óbvio que não iremos dissecar cada palavra exegeticamente nem analisar cada proposição das inúmeras teses sobre o assunto, mas considerando os aspectos mais importantes do que foi exposto por Shaul até agora, poderemos pensar de forma mais “messiânica” e entendermos assim;

- O primeiro casal vivia em um ambiente que não poderemos descrever como uma sociedade, pois eram apenas eles, os animais e as plantas, então não havia tentações referentes às pessoas como hoje somos expostos, não havia deuses para serem idolatrados (eles só conheciam o Criador que falava com eles), não havia Shabat para ser celebrado, não havia ninguém para ser cobiçado, não havia bens para serem roubados nem inimigos a serem mortos, também não havia “próximos” para serem amados. Não havia no que pecar. Só havia um ponto a ser explorado pelo adversário, a desobediência de uma única lei, “não comam da árvore que está no meio do jardim”, naquilo em que Satan também foi tentado, o orgulho, a fraqueza do casal estava em quererem ser iguais a Deus e como não havia sobre quem se orgulhar orgulharam-se sobre Deus.

Os filhos de Adão já tiveram mais oportunidades de serem tentados e assim por diante.

Não está escrito que Adão tenha sido contaminado por uma doença chamada pecado e que a tenha transmitido para a sua descendência como uma doença hereditária, ele somente foi o primeiro a pecar, isso é um marco referencial na história da humanidade, e cada um dos seus descendentes peca porque tem a liberdade para pecar.

Alegar que não existia morte nem entre os animais antes da queda é ignorar que o Criador fez as feras (predadores) para manter o equilíbrio natural de toda natureza. Não há uma única referência de que os animais eram imortais, e para o homem seria necessário comer da árvore da vida para ser imortal (conforme Gênesis 3.22), mas a consequência do pecado trouxe a morte espiritual.

Por um homem entrou a morte espiritual na humanidade, mas a melhor informação colocada por Shaul na sua carta, é que também por um homem (o Messias tornado humano) veio a justificação (salvação da morte), não da morte física, porque ela é necessária para que possamos atingir a incorruptibilidade e imortalidade, mas da morte espiritual, que é de verdade o verdadeiro e grande inimigo da existência humana.


Sei que as minhas opiniões também estão sujeitas a questionamentos, mas isso é que é a maravilha da revelação do Eterno, cada um deve busca-la por si mesmo.


Escrito por

Rosh Gilberto Branco

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