Um livro aberto com textos em hebraico e a borda de um talit cobrindo parte do livro

Carta aos Hebreus - Parte 4

10/09/2022
Por Rosh Gilberto Branco

Tempo de leitura: minutos


Dando sequência ao estudo da carta aos hebreus, começaremos a meditar a partir do capítulo sete;

Esse Melquisedeque, rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, encontrou-se com Abraão quando este voltava, depois de derrotar os reis, e o abençoou; e Abraão lhe deu o dízimo de tudo. Em primeiro lugar, seu nome significa "rei de justiça"; depois, "rei de Salém" quer dizer "rei de paz".

Sem pai, sem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias nem fim de vida, feito semelhante ao Filho de Deus, ele permanece sacerdote para sempre.

Considerem a grandeza desse homem: até mesmo o patriarca Abraão lhe deu o dízimo dos despojos! Hebreus 7:1-4

Em hebraico o nome do rei é “Malki Tsedek”, Rei de Justiça, rei da cidade de Salém, a atual cidade de Jerusalém.

A Torá revela pouca coisa sobre esse personagem, mas Abraão o conhecia como sacerdote do Deus que havia se revelado a ele.

Algumas vezes, alguns intérpretes da Torá falham em entender algo que, de fato, está apresentado de forma simples, mas preferem complicar com explicações complexas que ficam fora do contexto.

Esse rei foi um homem comum que teve pais, ancestrais, data de nascimento com consequente data de morte, somente não há registro desses dados, não se sabe nada mais sobre ele.

Ele foi um remanescente dos que criam no Deus que Noé ensinou aos seus descendentes, nada mais sabemos sobre ele.

O paralelo feito entre o rei e o nosso Messias tem relação a isso, não sabemos quem o ordenou como sacerdote, mas o Eterno o reconhecia como tal, não havia uma linhagem sacerdotal para justificar legalmente a sua função, mas ele teve autoridade para abençoar Abraão, e Abraão, em um ato de reverência ao Deus que o rei representava, lhe deu o dízimo dos despojos como ato de adoração ao Criador.

Podemos deduzir que Abraão já o conhecia e que a entrega de dízimos era algo que fazia parte da sua cultura.

O rei serviu de referência ao chamado de Yeshua como Messias nos seguintes termos:

1- Ninguém poderia descrever a ancestralidade do Messias, Ele é eterno, não foi criado nem gerado, mas sempre foi um com o Criador, já estava presente antes da fundação do mundo.

2- Ninguém poderia datar a sua origem, a eternidade não se encaixa nos calendários.

3- O Messias não está morto, mas vive para sempre, a divindade é imortal.

4- Ele foi alçado ao sacerdócio divino pela sua atuação como ungido, não por herança genética e é reconhecido como tal.

Sei que muitos acharão essas afirmações um disparate, mas vamos arrazoar;

1- A criança que foi gerada no ventre de Miriam e que recebeu o nome de Yeshua, foi o corpo que foi habitado pelo Messias, esse corpo tinha ancestrais que se alinham com a ascendência do rei David.

2- A forma humana do Messias tinha uma data de nascimento, e posteriormente teve uma data da sua morte, mas não somente Ele ressuscitou como foi retornado à sua forma eterna.

Então o Messias se enquadra nos padrões do rei de Salém com toda autoridade, e o relacionamento de Abraão com o rei deve nortear o nosso relacionamento com Yeshua.


Eis aqui uma explicação bem sensata sobre a qualidade do chamado dízimo pelo modelo da Torá;

A Torá requer dos sacerdotes dentre os descendentes de Levi que recebam o dízimo do povo, isto é, dos seus irmãos, embora estes sejam descendentes de Abraão.

Este homem, porém, que não pertencia à linhagem de Levi, recebeu os dízimos de Abraão e abençoou aquele que tinha as promessas.

Sem dúvida alguma, o inferior é abençoado pelo superior. Hebreus 7:5-7

Antes de Gênesis 14 não há nenhuma referência ao dízimo na Torá, nem há explicação sobre quem instruiu Abraão a dar um décimo dos despojos de guerra ao sacerdote de Salém, e qualquer afirmação sobre essa origem será totalmente especulativa.

Seja lá como foi que esse costume surgiu, ele foi posteriormente regulamentado pelo Eterno através da Torá dada a Moisés.

Dessa forma, ficou estabelecido ao povo de Israel que o sustento da atividade espiritual (religiosa) seria centrada na tribo de Levi e que eles seriam sustentados através dos dízimos, ou seja, quando um israelita pagava o dízimo ele estava sustentando toda a atividade religiosa que a nação necessitava para existir.

A atividade religiosa era central na vida do povo de Israel e muitos a sustentavam liberalmente por reconhecer a sua importância, mas, como comenta o autor da carta, os levitas eram seus irmãos, ou seja, eram parentes.

Neste caso, o rei não somente recebeu o dízimo como também abençoou a Abraão, sendo assim considerado maior do que os koanim descendentes de Abraão.


Para concluir o pensamento;

No primeiro caso, quem recebe o dízimo são homens mortais; no outro caso é aquele de quem se declara que vive.

Pode-se até dizer que Levi, que recebe os dízimos, entregou-os por meio de Abraão, pois, quando Melquisedeque se encontrou com Abraão, Levi ainda estava no corpo do seu antepassado. Hebreus 7:8-10

Assim, pela lei mosaica, os levitas e koanim que recebem os dízimos são pessoas a quem foi outorgado o direito de os receber, mas no caso do Messias até mesmo os levitas deveriam dar os seus dízimos por ele ser maior.


Apesar da importância do ministério levítico, o sacerdócio de Yeshua é muito superior;

Se fosse possível alcançar a perfeição por meio do sacerdócio levítico (pois em sua vigência o povo recebeu a lei), por que haveria ainda necessidade de se levantar outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque e não de Arão? Hebreus 7:11

Isso foi profetizado nos Salmos;

O Eterno jurou e não se arrependerá: "Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque". Salmos 110:4

Um sacerdócio grandioso e mais abrangente foi dado a Yeshua, pois tem alcance mundial e não centralizado, subordinando a si mesmo todas as pessoas.


Uma vez que Yeshua assumiu esse sacerdócio especial, o antigo já não tem lugar;

Pois quando há mudança de sacerdócio, é necessário que haja mudança de lei.

Ora, aquele de quem se dizem estas coisas pertencia a outra tribo, da qual ninguém jamais havia servido diante do altar, pois é evidente que o nosso Senhor descende de Judá, tribo da qual Moisés nada fala quanto a sacerdócio. Hebreus 7:12-14

O antigo sacerdócio já não tem mais lugar, se não for por Yeshua ninguém alcançará o perdão dos pecados.


A linhagem genética de nada vale diante da escolha e unção que procede do Eterno;

O que acabamos de dizer fica ainda mais claro, quando aparece outro sacerdote semelhante a Melquisedeque, alguém que se tornou sacerdote, não por regras relativas à linhagem, mas segundo o poder de uma vida indestrutível. Hebreus 7:15,16

O modelo do rei de Salém serviu de parâmetro para entendermos e aceitarmos que o modelo humano é imperfeito, mas a provisão divina é perfeita e permanente.


Considerando que as coisas descritas e executadas pelos homens são sombras das coisas futuras, fica mais fácil entender este texto;

Pois sobre ele é afirmado: "Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque".

A ordenança anterior é revogada, porquanto era fraca e inútil (pois a Torá não havia aperfeiçoado coisa alguma), sendo introduzida uma esperança superior, pela qual nos aproximamos de Deus. Hebreus 7:17-19

Entendemos que a Torá é um livro de instrução e orientação, ela apresenta modelos e mensagens, mas não tem poder para transformar, isso vem do alto. Conhecer a Torá não transforma, viver as instruções edifica.

O ministério levítico ensinou o caminho para o ministério do Messias.


Ninguém melhor do que os israelitas para saber como são eleitos os sacerdotes;

E isso não aconteceu sem juramento! Outros se tornaram sacerdotes sem qualquer juramento, mas ele se tornou sacerdote com juramento, quando Deus lhe disse: "O Senhor jurou e não se arrependerá: ‘Tu és sacerdote para sempre’ ". Hebreus 7:20,21

Arão foi escolhido pelo Eterno como o primeiro da linhagem sacerdotal, e os seus filhos foram os herdeiros, depois os seus netos, os bisnetos e assim até os dias de hoje quanto Israel pretende ressuscitar o ofício koanim depois da desejada reconstrução do templo de Jerusalém. Esses sacerdotes sempre o foram por leis de sucessão, independente de boas referências do indicado, já Yeshua teve a seu favor um juramento do Eterno.


Isso faz grande diferença quanto à importância dessa ordenação;

Yeshua tornou-se, por isso mesmo, a garantia de uma aliança superior.

Ora, daqueles sacerdotes tem havido muitos, porque a morte os impede de continuar em seu ofício; mas, visto que vive para sempre, Yeshua tem um sacerdócio permanente.

Portanto ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles. Hebreus 7:22-25

Se tivéssemos as informações necessárias poderíamos ficar abismados com o número de sacerdotes que exerceram o ofício ao longo da história, pois geração após geração sacerdotes nasceram, exerceram a função, envelheceram e passaram à geração seguinte, mas após Yeshua assumir o melhor sacerdócio pode então manter o valor de um sacrifício único para todos os pecadores, Ele exerce um sacerdócio superior por causa do juramento e ainda é garantido por ser permanente.


O capítulo sete termina com esta grande declaração;

É de um sumo sacerdote como este que precisávamos: santo, inculpável, puro, separado dos pecadores, exaltado acima dos céus.

Ao contrário dos outros sumos sacerdotes, ele não tem necessidade de oferecer sacrifícios dia após dia, primeiro por seus próprios pecados e, depois, pelos pecados do povo. E ele fez isso de uma vez por todas quando a si mesmo se ofereceu.

Pois a Torá constitui sumos sacerdotes a homens que têm fraquezas; mas o juramento, que veio depois da Torá, constitui o Filho, perfeito para sempre. Hebreus 7:26-28

O texto em si é bem claro, nenhum homem nascido normalmente sobre a face da Terra, seja no passado ou no futuro, teria condições de assumir tal função, afinal, a qual ser humano se pode dizer que seja santo, inculpável, puro e separado dos pecadores? Yeshua é o único que pôde ser enquadrado nestas exigências tão exclusivas, por isso ninguém nunca poderá dizer que o Messias é um homem que foi escolhido para ser o representante do Eterno entre os homens, pois todos os sacerdotes, desde Arão, sempre precisaram apresentar sacrifícios pelos seus próprios pecados antes de poderem exercer a função sacerdotal para as outras pessoas, mas Yeshua pode ser o Messias porque Ele é um com o Pai.


Comecemos agora o capítulo oito;

O mais importante do que estamos tratando é que temos um sumo sacerdote como esse, o qual se assentou à direita do trono da Majestade nos céus e serve no santuário, no verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu, e não o homem. Hebreus 8:1,2

Escrevendo para os hebreus, agora o autor afirma algo que nunca foi imaginado pelo povo nos mais de mil e quinhentos anos anteriores, um sumo sacerdote com o privilégio de poder se sentar à direita do trono da majestade nos céus.

Imagine a cabeça dos israelitas do primeiro século ao saberem que nem Arão, nem Moisés, nem Samuel, nem nenhum outro sacerdote teve tal privilégio, mas aquele personagem que agitou a Terra de Israel por cerca de três anos, realizou sinais inimagináveis, falou como ninguém em toda a história dos hebreus, aquele que foi rejeitado pelos líderes do povo, condenado e executado por estrangeiros, esse recebeu uma distinção tal que nem mesmo algum dos anjos jamais teve!

Pois bem, até hoje existe essa dificuldade, mas somente aqueles que como Kefa podiam responder se Yeshua fizesse a mesma pergunta que fez a ele dizendo “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo", sabem que isso foi revelado pelo Pai que está nos céus.


Façamos estas considerações;

Todo sumo sacerdote é constituído para apresentar ofertas e sacrifícios, e por isso era necessário que também este tivesse algo a oferecer.

Se ele estivesse na terra, nem seria sumo sacerdote, visto que já existem aqueles que apresentam as ofertas prescritas pela Torá. Hebreus 8:3,4

Se Yeshua permanecesse na Terra nunca teria sido reconhecido como sacerdote e nem poderia exercer o ofício, devido às leis em vigor que o impediriam de sacrificar as ofertas e nem sequer poderia entrar no interior do santuário, sem contar que nada mudaria de fato.

Contudo, ao oferecer a si mesmo como oferta de forma despadronizada, contrariando tudo o que era reconhecido como modelo, aniquilou o entendimento humano sem alterar absolutamente nada do propósito divino.


Hebreus, pensem;

Eles servem num santuário que é cópia e sombra daquele que está nos céus, já que Moisés foi avisado quando estava para construir o tabernáculo: "Tenha o cuidado de fazer tudo segundo o modelo que lhe foi mostrado no monte".

Agora, porém, o ministério que Yeshua recebeu é superior ao deles, assim como também a aliança da qual ele é mediador é superior à antiga, sendo baseada em promessas superiores. Hebreus 8:5,6

Conforme uma organização planejada pelo Eterno um modelo foi mostrado a Moisés, modelo esse que ilustrava a ordem como todas as coisas são resolvidas pelos valores divinos, já Yeshua hoje não exerce o sacerdócio em um modelo, mas dentro do pleno projeto planejado desde antes da fundação do mundo, um santuário infinitamente superior, cheio da glória do Criador e plenamente ativo para justificar o mais perdido pecador.


Os sacerdotes mediavam sobre a aliança feita com Israel através de Moisés, mas não era perfeita;

Pois se aquela primeira aliança fosse perfeita, não seria necessário procurar lugar para outra.

Deus, porém, achou o povo em falta e disse: "Estão chegando os dias, declara o Senhor, quando farei uma nova aliança com a comunidade de Israel e com a comunidade de Judá.

Não será como a aliança que fiz com os seus antepassados quando os tomei pela mão para tirá-los do Egito; visto que eles não permaneceram fiéis à minha aliança, eu me afastei deles", diz o Senhor. Hebreus 8:7-9

A primeira aliança não era perfeita porque o homem falhava com ela, da parte do Eterno tudo era perfeito, mas sabendo de antemão que tudo isso ocorreria, foi necessário um aperfeiçoamento.

Essa primeira aliança dependia de um povo que era formado de todo tipo de gente, fiéis e infiéis, mas a segunda seria formada por outro tipo de gente.


A nova aliança envolve apenas pessoas compromissadas em manter viva a aliança;

"Esta é a aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles dias", declara o Senhor. "Porei minhas leis em suas mentes e as escreverei em seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo.

Ninguém mais ensinará ao seu próximo nem ao seu irmão, dizendo: ‘Conheça ao Senhor’, porque todos eles me conhecerão, desde o menor até o maior.

Porque eu lhes perdoarei a maldade e não me lembrarei mais dos seus pecados".

Chamando "nova" esta aliança, ele tornou antiquada a primeira; e o que se torna antiquado e envelhecido, está a ponto de desaparecer. Hebreus 8:10-13

Esta aliança é feita com pessoas que experimentaram algo sobrenatural em sua alma, ainda que inicialmente tenha começado dentro do povo hebreu, não significa que todas as pessoas seriam transformadas e que fariam parte desta aliança, mas que pessoas seriam afetadas por ela. Pela promessa feita a Abraão, podemos entender que fariam parte dessa aliança também todas as famílias da Terra.

Devemos atentar também ao texto quando diz que a nova aliança tornou antiquada a primeira, não diz que anulou a primeira, ela permanece porque o Eterno nunca anula uma promessa, somente que ela se tornou desnecessária por falta de alguém que faça uso dela, já que não há mais sacrifícios a serem feitos ninguém precisa dela, Yeshua fez um sacrifício muito melhor.


Esta é a quarta parte do estudo da carta aos judeus messiânicos, acompanhem a próxima parte.

Escrito por

Rosh Gilberto Branco

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