Menino sorrindo e orando

A intimidade com o Eterno

17/07/2022
Por Rosh Gilberto Branco

Tempo de leitura: minutos


Existem muitos religiosos, mas nem todos sabem de verdade o que significa ter intimidade com o seu Criador.

Um líder religioso pode ascender a um alto cargo eclesiástico através de estudos, ativismo, ser carismático, sociável, ou até mesmo por ambição, fraudes, intimidação, golpes e coisas similares, ou seja, nem sempre um líder assume o poder em uma organização religiosa por direção e capacitação do Eterno. E da mesma forma existem muitas pessoas que se ligam a organizações religiosas, mas não tem afinidades com o Eterno, contudo aparentam uma santidade que não condiz com a realidade.

Nós, como seres humanos, não podemos medir o grau de afinidade que uma pessoa tem só por olharmos para ela, e na prática é muito comum nos equivocarmos com isso.

Neste estudo vamos analisar o que realmente pode ser traduzido como ‘comunhão com o Criador’.


O primeiro exemplo que temos de alguém que usufruiu de intimidade com Deus está registrado no livro de Bereshit (Gênesis);

Ouvindo o homem e sua mulher os passos do Senhor Deus que andava pelo jardim quando soprava a brisa do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus entre as árvores do jardim.

Mas o Senhor Deus chamou o homem, perguntando: "Onde está você?" Gênesis 3:8,9

Em todo o texto anterior encontramos menções sobre o Eterno falando direta e pessoalmente com o primeiro casal, a isso podemos chamar de intimidade, pois o Criador não ficou distante da sua criação sentado em seu trono apenas observando, antes tinha atuação direta e contínua sobre a existência de vida na Terra e ainda falava pessoalmente com as pessoas que desejasse.


Essa comunicação era em duas vias, pois o Eterno também ouvia as pessoas e recompensava os mais íntimos;

Depois que gerou Matusalém, Enoque andou com Deus 300 anos e gerou outros filhos e filhas.

Viveu ao todo 365 anos.

Enoque andou com Deus; e já não foi encontrado, pois Deus o havia arrebatado. Gênesis 5:22-24

Como se anda com Deus?

Não é difícil, é só querer estar na sua presença com frequência, falar com Ele (orar), pensar nEle e honrá-lo, desejar obedecê-lo, amá-lo de todo coração, deixar claro para todos ao seu redor que o Eterno é prioridade na sua vida e compartilhar do seu amor por nós.


Podemos observar que Caim era religioso, ele praticava a religião e fez a sua oferta ao Criador, porém a falta de intimidade o levou a errar no sacrifício e depois, por mera inveja, matou o seu irmão. Ele era religioso, mas isso não impediu que ele ouvisse a voz de Deus e mesmo assim o rejeitasse.

Então Caim afastou-se da presença do Senhor e foi viver na terra de Node, a leste do Éden. Gênesis 4:16

Assim vivem muitas pessoas ditas religiosas, querem ser justificadas fazendo atos religiosos, mas não tem interesse em se relacionar com mais proximidade com o Eterno.

O Eterno não quer sacrifícios sem comunhão;

"Para que me oferecem tantos sacrifícios? ", pergunta o Senhor. Para mim, chega de holocaustos de carneiros e da gordura de novilhos gordos; não tenho nenhum prazer no sangue de novilhos, de cordeiros e de bodes!

Quando lhes pediu que viessem à minha presença, quem lhes pediu que pusessem os pés em meus átrios?

Parem de trazer ofertas inúteis! O incenso de vocês é repugnante para mim. Luas novas, sábados e reuniões! Não consigo suportar suas assembleias cheias de iniquidade.

Suas festas da lua nova e suas festas fixas, eu as odeio. Tornaram-se um fardo para mim; não as suporto mais!

Quando vocês estenderem as mãos em oração, esconderei de vocês os meus olhos; mesmo que multipliquem as suas orações, não as escutarei! As suas mãos estão cheias de sangue!

Lavem-se! Limpem-se! Removam suas más obras para longe da minha vista! Parem de fazer o mal, Isaías 1:11-16

Vemos várias pessoas dando atenção exacerbada a tradições, festas bíblicas, shabat e kashrut, mas no seu íntimo não há legítima comunhão com o Eterno.

Alguns poderão argumentar, ‘- Mas não foi o Eterno quem estabeleceu estas ordenanças?’

R. Sim foi, mas a falta de comunhão anula todo o valor das celebrações.

Daí depreendemos que não importa o quão religiosa uma pessoa pode ser, o que importa é quão íntima a pessoa é com o Eterno.


Vejamos outros exemplos;

Lamento ter constituído a Saul rei, pois ele me abandonou e não seguiu as minhas instruções”. Samuel ficou irado e clamou ao Senhor toda aquela noite. 1 Samuel 15:11

Saul também teve experiências especiais quando Samuel o chamou para ser ungido como capitão dos exércitos de Israel, ouviu as condições para que o seu reinado permanecesse, mas quando o poder subiu na cabeça do rei, tudo foi perdido, ele afastou-se da comunhão com o Eterno e andou pela sua própria vontade.


Vamos ver agora que ser íntimo do Criador não implica necessariamente em ser um religioso carola, pois muitas pessoas se apegam à religião mais do que se aproximam do seu Deus, são pessoas fanáticas que valorizam a instituição mais do que o alvo dela.

Vemos muitos exemplos disso entre os adeptos de religiões não bíblicas, pois são capazes de matar ou morrer para defender o nome da sua religião, sublimando seus líderes, relíquias, templos e tradições, mas sem nenhum conhecimento do Deus vivo.

Mesmo entre pessoas que se afiliam a uma religião que tem a Torá como referência máxima, encontraremos pessoas agindo de forma muito parecida com os não bíblicos, pois valorizam mais a criação do que o Criador;

Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram a coisas e seres criados, em lugar do Criador, que é bendito para sempre. Amém. Romanos 1:25


Encontramos no TANACH diversos exemplos de pessoas realmente compromissadas com a presença do Eterno e que sabiam tem uma vida equilibrada, como é necessário se ter para mostrarmos um testemunho atrativo e realista diante deste mundo deturpado.


Fé, ou confiança absoluta, faz a distinção entre os filhos de Deus e os perdidos. Ainda que a fé possa ser direcionada à entidade errada, a verdadeira fé é aplicada ao Criador de todas as coisas.

Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício superior ao de Caim. Pela fé ele foi reconhecido como justo, quando Deus aprovou as suas ofertas. Embora esteja morto, por meio da fé ainda fala. Hebreus 11:4

A primeira pessoa a ser declarada como tendo fé foi Abel, sem dúvida foi o diferencial para que o Eterno aceitasse a sua oferta. Ele não era um sacerdote, nem um beato de templos, era um trabalhador que valorizava sua comunhão com o Eterno.


Da mesma forma, Enoque;

Pela fé Enoque foi arrebatado, de modo que não experimentou a morte; "ele já não foi encontrado porque Deus o havia arrebatado", pois antes de ser arrebatado recebeu testemunho de que tinha agradado a Deus. Hebreus 11:5

Quase nada sabemos de Enoque, exceto o que diz o texto de Gênesis 5 que registra que ele “andou com Deus”. Qualquer coisa que se afirme sobre ele será especulativa e sem fundamentos, mas nada nos faz crer que fosse um carola, mesmo porque não havia ainda templos ou religião formal ao Eterno.


Também podemos citar Abraão;

Pela fé Abraão, quando chamado, obedeceu e dirigiu-se a um lugar que mais tarde receberia como herança, embora não soubesse para onde estava indo. Hebreus 11:8

De Abraão sabemos mais detalhes, ele era criador de ovelhas, tinha uma grande quantidade de servos, vivia errante por terras que somente seriam da sua posteridade no futuro, não era um sacerdote, mas mesmo assim tinha uma grande intimidade com o Eterno.


Assim, percorrendo as Escrituras encontraremos não muitas pessoas que se enquadram no padrão dos filhos de Deus.

Podemos até destacar o caso do comandante do exército do rei da Síria Naamã;

E disse Naamã: Já que não aceitas o presente, ao menos permite que eu leve duas mulas carregadas de terra, pois teu servo nunca mais fará holocaustos e sacrifícios a nenhum outro deus senão ao Eterno. 2 Reis 5:17

Naamã era um militar, ele não tinha a menor aptidão para ser sacerdote ou um religioso beato, mas descobriu o Deus verdadeiro através de uma experiência pessoal e assumiu um compromisso público de manter afinidade única com Criador de todas as coisas.


Podemos observar que a relação de intimidade com o Eterno é algo que deve ser mantida ao longo do tempo, pois circunstâncias adversas podem levar alguém a trair essa relação, vejamos o caso de Bilan;

Então o Senhor abriu os olhos de Balaão, e ele viu o anjo do Senhor parado no caminho, empunhando a sua espada. Então Balaão inclinou-se e prostrou-se, rosto em terra.

E o anjo do Senhor lhe perguntou: "Por que você bateu três vezes em sua jumenta? Eu vim aqui para impedi-lo de prosseguir porque o seu caminho me desagrada. Números 22:31,32

Bilam era conhecido como profeta do Eterno, isso implica em um relacionamento estreito entre um homem e Deus.

Apesar de sabermos pouco sobre ele, deduzimos que mantinha uma vida separada da cultura pagã onde vivia. Esse relacionamento espiritual permitia que ele conhecesse muitas coisas sobre a natureza divina, mas a oferta do rei Balak instigou a ambição do profeta que desejou enriquecer rapidamente.

Bilam recebeu a revelação da não aprovação sobre amaldiçoar Israel, então ele sabia com clareza que o Eterno o estava direcionando a não receber a oferta do rei. Mesmo assim, ele tentou de várias formas encontrar uma oportunidade de agradar ao rei, mas como não foi possível falar uma maldição, ele astutamente entendeu que a única maneira de romper a proteção divina sobre os hebreus seria se eles pecassem ostensivamente, e essa foi a sugestão dada pelo profeta ao rei de Moabe. Isso causou um grande prejuízo ao povo de Moisés porque o Eterno pesou sua mão sobre os hebreus, mas os moabitas e o próprio Bilam também receberam punição severa da parte do Criador, mas pior do que ser morto à espada, Bilam foi rejeitado pelo Eterno perdendo a comunhão antes conhecida.


Enfim, poderemos ainda encontrar vários exemplos no TANACH de como uma aproximação íntima entre os homens e o seu Criador podem fazer muita diferença para si mesmo e para com as outras pessoas.


Vamos agora entrar no ambiente do Brit Chadashá, a Nova Aliança.

É inquestionável que toda a existência da humanidade desde a criação até a vinda do Mashiach foi repleta de pessoas que valorizaram um bom relacionamento com o seu Deus, por isso se destacaram no cenário mundial e prestaram um bom serviço dentro do plano divino através dos séculos.

Mas nunca essa experiência foi tão evidenciada e estimulada como durante o ministério de Yeshua.

O relacionamento do Mashiach com o Eterno desde a gestação é facilmente compreendida e aceita, afinal nele está naturalmente o sentido da divindade;

Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não no Messias.

Pois no Messias habita corporalmente toda a plenitude da divindade, e, por estarem nele, que é o Cabeça de todo poder e autoridade, vocês receberam a plenitude. Colossenses 2:8-10

Quando o Messias assumiu um corpo humano na gestação de Miriam, a presença física da divindade veio até o meio da humanidade para permitir uma aproximação mais intensa entre o homem e o seu Criador.

Algumas pessoas presenciaram a transição entre a antiga e a nova aliança quando viram Yeshua ainda um bebê. Esse foi o caso de dois anciãos, Simeão e Anna a profetiza, ambos tinham uma vida de grande proximidade com o Eterno e quando viram o menino Yeshua em Jerusalém souberam quem Ele era e o honraram, eles não presentearam Yeshua com ouro ou prata, mas o seu reconhecimento público de que aquele menino era a esperança de Israel despertou o ânimo de muitas pessoas que estavam ali naquela hora.


O tempo passou e;

Yeshua ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens. Lucas 2:52

A interação de Yeshua com o Pai sempre chamou a atenção entre as pessoas que o conheciam. E essa interação foi fundamental para o pleno cumprimento da sua missão.


A partir do momento em que Yeshua iniciou o seu ministério ficou evidente que havia algo especial nesse homem;

Então ele desceu a Cafarnaum, cidade da Galileia, e, no sábado, começou a ensinar o povo.

Todos ficavam maravilhados com o seu ensino, porque falava com autoridade. Lucas 4:31,32

Toda essa autoridade advinha da profunda comunhão que Ele tinha com o Eterno e que agora oferecia ao povo.


O que houve de diferente no ministério do Messias?

Mas ele disse: "É necessário que eu pregue as boas novas do Reino de Deus noutras cidades também, porque para isso fui enviado". Lucas 4:43

E então, que boas novas são essas?


Em termos comportamentais, Yeshua tinha o hábito de orar em todo lugar;

Mas Yeshua retirava-se para lugares solitários, e orava. Lucas 5:16

Ele ia a lugares solitários para ter momentos de íntima comunhão com o Pai, nisso vemos a qualidade dessa oração.

As pessoas que realmente falam com o Eterno se até somente a Ele durante as suas orações, falam de fato como em um diálogo onde se transmite uma informação e recebem a resposta, ou simplesmente informam o ouvinte, por outro lado, existem pessoas que recitam frases pré-preparadas de forma lida ou memorizada e chamam isso de oração, outros as chamam de reza, mas isso seria mesmo um diálogo?

Ao ensinar, Yeshua dizia: "Cuidado com os mestres da Torá. Eles fazem questão de andar com roupas especiais, de receber saudações nas praças e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes.

Eles devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações. Esses receberão condenação mais severa! " Marcos 12:38-40

Existem pessoas que até “vendem” as suas orações rebuscadas e “poderosas”, uns chamam de “oração forte”, coisa mais sem sentido, pois será que o poder está nas palavras da oração? Alguns dizem que sim, mas se fosse assim qualquer pessoa que as recitasse alcançaria o mesmo resultado, mas a verdade é que uma oração será respondida se ela for ouvida pelo Eterno, pois o Eterno tem poder e não a oração.

Yeshua condenou enfaticamente a oração sem comunhão, orações que só servem para serem admiradas pelas pessoas e não para serem ouvidas pelo Eterno.


Os ensinos de Yeshua visam sempre uma grande aproximação do homem com o Criador, precisamos focar a nossa existência no propósito da criação do mundo, ou seja, na formação da família de Deus.

Para tanto o Eterno reuniu judeus e gentios sob um mesmo propósito;

Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Yeshua o Messias como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor. Efésios 2:19-21

Indistintamente judeus e gentios temos acesso irrestrito a nos tornarmos uma família, ora, uma família se comunica, interage, conversa, se entende, se ama e se protege.

Pessoas que tratam o Eterno de forma distante e impessoal não fazem parte desta família.


Como família, temos um registro que garante todos os direitos de herança dos seus componentes e esse registro é chamado “Livro da Vida”;

O vencedor será igualmente vestido de branco. Jamais apagarei o seu nome do livro da vida, mas o reconhecerei diante do meu Pai e dos seus anjos. Apocalipse 3:5

Fazer parte desta família é muito especial, cada um será identificado por Yeshua e reconhecido como parente, isso é um privilégio dos que tem intimidade com Ele.


Se esforce para manter essa intimidade, fuja de superficialidades que o afastem da plena comunhão, fale com o Eterno, interaja com Ele, trate-o como uma pessoa próxima e real.

Sem intimidade não haverá salvação;

Em resposta, Yeshua declarou: "Digo-lhe a verdade: Ninguém pode ver o Reino de Deus, se não nascer de novo". João 3:3

Para nascer de novo somente sendo íntimo do Eterno.

Escrito por

Rosh Gilberto Branco

Tempo de leitura: minutos


Compartilhe:


Leia também:

Gálatas, uma carta incompreendida - Parte 05

Vai um cookie aí?

Nós utilizamos cookies para aprimorar a sua experiência em nosso site. Ao fechar este banner ou continuar na página, você concorda com o uso de cookies.

Saiba Mais